sábado, 15 de setembro de 2007

Pensiero e promessa del giorno

Outra vez o tempo, já comentado aqui e, indiretamente, aqui.

Um grande amigo que vocês não conhecem muito sabiamente me fez refletir sobre a singeleza de uma verdade incontestável:

"O dia 15 de setembro de 2007 terminou. Nunca haverá outro."

As implicações dessa simples contestação são grandes e não ajudam muito a curar minha ansiedade sem fim. Não é fim de ano ainda, momento usualmente dedicado a reflexões do gênero, mas eu parei alguns minutos para pensar nos meus passos e fatos recentes:

1980 - Nasci em Floripa/SC.

1984 - Minha memória mais antiga.

1986 - Minha primeira bicicleta.

1987 - Alguns ensaios de empreendedorismo (ou mesquinharia mesmo): alugava revistinhas usadas.

1990 - Me dedico à natação, ao estudo da língua inglesa e da matemática. Pouca coisa mais me interessa. Não sou aceito nos grupinhos, não encaixo, não tenho roupas legais, não entendo o mundo.

1991 - Começam as transformações que me fazem recusar aquele corpo como meu. Espinhas, barba, mãos e pés imensos. Tudo contribuía para a feiúra crescente.

1992 - Meu prognóstico: não passaria dos 20, quiçá dos 22. Saio de uma escola particular, razoável, para uma escola pública, péssima. Nunca mais voltei a ter bons estudos. Aliás, conto nos dedos os bons professores que tive nos anos seguintes.

1993 - Madonna e Michael Jackson vêm ao Brasil. Me lembro de estar deitado no quartinho do quintal da minha casa, ouvindo ela cantando, ao vivo, e eu chorando por não poder estar lá.

1994 - Pesadelos constantes com a piscina do clube no qual eu nadava (já estava quase entrando para a equipe de competição) e o ódio mortal daquele frio que fazia nos invernos florianopolitanos me fizeram largar a natação. Trabalhei dois meses em uma lanchonete com o intuito de juntar um $$ para comprar um teclado. Começo a vasculhar os discos dos vizinhos em busca da música dos grandes mestres.

1995 - Ano importante: Começo os estudos de piano na Udesc. No meio do ano me mudo para Guaratinguetá - chovia em Floripa -, de ônibus, deixando para trás a segurança, deixando aqueles que pensava que seriam meus amigos para sempre - errei - e com a certeza que nunca mais seria o mesmo - acertei.

1996 - Meu primeiro festival de música: me lembro de chorar a minha mediocridade por duas semanas. Não tinha amigos, não lia, não ia ao shopping, e só tinha ido ao cinema para ver filmes dos Trapalhões quando era pequeno. Minha primeira namorada, meu primeiro beijo. Lembro da lua naquela noite.

1997 - Chego em Brasília, de ônibus - chovia -, sozinho, no dia do meu aniversário. Começo a conhecer pessoas que me incentivam intelectualmente.

1998 - Saio do meu quarto sem janela no cruzeiro velho e vago sem rumo por horas; queria chegar onde nada importasse; chovia; deito no chão da rua por um bom tempo e espero o tempo agir; nada aconteceu. Entro na UnB, depois de dois vestibulares fracassados.

2000 - Tendinite. 6 meses sem tocar. Para esquecer a dor, eu canto.

2002 - Formatura. Conheci o amor.

2003 - Fui feliz e sofri por amor.

2004 - Por amor, larguei tudo e fui para o além-mar. 3 meses apenas para ver que tudo aquilo era de vidro e se quebrou. Volto para o Brasil, com uma mochila apenas, e sem coração.

2005 - Ainda sofro por aquilo tudo... Sinto o peso de 1/4 de século

2006 - Tento consertar o anel, sem sucesso. Desisto do anel e do coração.

2007 - Já? 27 anos, sem rumo, lost e sem Lost, que só tem no ano que vem!

Conclusão: Nesse quarto de século a essência desgarrou-se do corpo. Agora ela vaga sozinha, em busca da sua matéria, enquanto esta se entrega aos prazeres momentâneos. Os outros apenas vêem em mim o que é carne e resultado de experiências carnais.

Terá o céu, o inferno, o mar e as estrelas quem reconhecer em mim a essência.

13 comentários:

Anônimo disse...

A vida em peda�os, peda�os de tempo... peda�os de ano, de meses, de dias, de horas, de minutos, de segundos... meu dia 15 tamb�m passou, mais um dos tantos que se passaram assim....

Marcya disse...

Li o que você escreveu e tive vontade de chorar... Quem vai encontrar a nossa essência perdida, se nós mesmos não sabemos por onde ela vaga? O meu medo é que ela esteja escondida no céu, no inferno, no mar e nas estrelas. Tão perto que quase dá pra ver... Mas a gente sempre espera que outro venha nos mostrar.

Silvio Garcia Martins Filho disse...

Não ia perder a piada, anônimo: tudo passa, até ameixa, né? :P

Marcya, chora não! ;)
Vamos com um pouquinho de paciência na nossa busca pessoal e prestando atenção nas dicas que os outros nos dão, sem esperar que eles nos mostrem onde está o 'espírito', mas sabendo que eles podem nos ajudar a chegar até lá. O desafio é nosso e só nosso.

Silvio Garcia Martins Filho disse...

...ai, tão fácil escrever.
;)

Unknown disse...

Mais uma vez, palavras fantásticas fazem a gente refletir também. Sinto a melancolia, mas nunca deixo ela me dominar. É a sugestão que eu dou. O que vale é viver e tentar. Uma hora a gente acha e se encanta..

Anônimo disse...

O que parece um acúmulo de datas e fatos na verdade é um processo, um crescimento, uma história. Aos 27 (só?), vc nao está "Lost" e sem rumo se pode estar aí a oferecer "o céu, o inferno, o mar e as estrelas"... Uma hora, mais cedo ou mais tarde, essa "essência" alguém a (re)conhecerá...

Anônimo disse...

PS: sobre anéis de vidro, I beg to differ... e, lembre-se, se vc joga no chão pra ver se quebra, às vezes nem o mais duro metal resiste inteiro

Anônimo disse...

PS2: nao leio, nunca tinha lido, nem vou passar a ler, in case you're wondering... foi apenas parte do pacote, digamos

Silvio Garcia Martins Filho disse...

Diogo, nota tomada. Agora falta colocar em prática. ;)

Anônimo não tão anônimo, obrigado pelo apoio. Sobre os anéis de vidro, vamos continuar vendo as coisas de modo diferente, acho que não tem jeito. E não esperava que vc voltasse, mas fique à vontade.
PS: Eu tenho rastreador, viu? :P

Mulhera disse...

Amore mio, o dia hoje é 25 de setembro e AINDA não terminou. E vamos, que amanhã é dia 26...

Leo disse...

Bonjour mefisto!
A Dani me mandou o seu blog, gostei. Gostei mais ainda de saber que você está alive and kicking! Um abraço.
Leo

Felipe Rosa disse...

Em 95 eu também estava em Guaratinguetá.

Anônimo disse...

Um breve curriculum. Assim fico conhecendo um pouco mais de ti. Ainda não sei o bastante, mas já me basta para admirar. Ah! A maciez de suas mãos deve ser pela delicadeza de músico!