terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Obrigações

Dezembro é o mês de obrigações: festas de confraternização, amigos ocultos, listas intermináveis de presentes, festas e mais festas, despedidas, chegadas, Natal... uma chatice só! Odeio TER que. Eita verbinho chato! Tento me convencer que eu QUERO voltar a escrever aqui, registrar minha viagenzinha de férias para SP, fatos curiosos, excitantes, interessantes, estrombólicos, as conclusões acerca do desempenho do ano, as perspectivas de ano novo, as novas inquietações, angústias, sonhos... mas o TER que parece soar mais forte. Assim, continuo neste silêncio por mais um tempinho enquanto houver qualquer indício de que alguma força externa (e a consciência, determinação, vontade, onde ficam?) me induz a fazê-lo.

AHHHHHHH!


O espelho, 1975, óleo sobre madeira 150 x 120 cm - Siron Franco

Arte das Musas - novembro e dezembro/07

A presente coluna será um parêntese à apresentação dos períodos da música erudita feita até então. Quando abordei o romantismo, ressaltei a importância que adquiriu a ópera, gênero artístico que mescla teatro e música. Assim, pretendo abordar aqui um pouco desse tema, apresentando alguns conceitos importantes para a sua apreciação.

Diz-se que a ópera surgiu no final do século XVI, mas foi no classicismo e, principalmente, no romantismo que ela tomou grande vulto. Entretanto, não é intuito desta coluna apresentar a história da ópera.

São vários os elementos comuns entre a ópera e o teatro. Uma diferença é a letra, ou texto, conhecido como libreto. Algumas vezes o compositor contava com um libretista, que adaptava a obra escolhida, ou então o próprio compositor se encarregava do libreto, adaptando uma obra literária ou criando um original. O trabalho do libretista é tornar o texto apto a ser musicado.

Outra nomenclatura comum no mundo da ópera é a classificação dos cantores e seus personagens pelos timbres vocais. As vozes masculinas são geralmente classificadas em baixo, barítono, tenor e contratenor, da mais grave para a mais aguda. As vozes femininas, por sua vez, e da mesma forma, classificam-se em contralto, mezzo-soprano e soprano. Também se convencionou adicionar uma subclassificação a esses nomes, detalhando características da voz que melhor definem o timbre e o personagem a se interpretar, enquanto aquela primeira classificação está mais relacionada à tessitura, ou extensão vocal. Por exemplo: o Tamino, da Flauta Mágica de Mozart, é um tenor-ligeiro (‘leggero’ em italiano quer dizer leve), enquanto a Rainha da Noite, da mesma ópera, é uma soprano coloratura. Dificilmente uma soprano lírica conseguiria interpretar a Rainha da Noite ou – praticamente impossível – uma mezzo-soprano fazer esse mesmo papel.

Em comparação à música sinfônica e instrumental, uma diferença nas apresentações de ópera são as divisões da obra. A ópera começa com uma Abertura, em que são apresentados elementos que introduzem a atmosfera que vai permear a obra. Vi certa vez, em uma montagem de “La Traviata”, de Verdi, baseada no romance de Dumas “A Dama das Camélias”, as cortinas se abrirem aos primeiros acordes da Abertura e, no palco, apenas uma lápide antecipando o fim trágico da tuberculosa Violetta. Ahn... Não se preocupe! Não é um problema saber o final da história, se afinal são sempre as mesmas, mas sim como ela vai ser contada ou, no caso, montada.
Em seguida, temos os atos, grandes trechos da obra. Geralmente são de 2 a 4 atos, dependendo da envergadura da ópera. Em cada ato temos árias, momentos musicais para um cantor ou, se feitas para mais de um cantor, duetos, tercetos, quartetos e assim por diante. Há também os coros e os balés. Diferentemente da obra sinfônica ou instrumental, terminada uma ária cuja interpretação tenha sido muito boa, cabem aplausos, assovios e ‘bravos’.

Por fim, há também os recitativos, trechos musicais que são um meio termo entre o canto e a fala. O recitativo é a maneira como os personagens normalmente "conversam". Esse recurso é especialmente utilizado na ópera italiana, visando não quebrar a atmosfera musical. Alguns outros compositores optam pela fala, requerendo dos cantores seus talentos de atuação como se em um teatro estivessem.

Não disponibilizarei aqui trechos de óperas, pois para sua apreciação não apenas a audição é demandada, pois também é preciso ver. Assim, recomendo para os iniciantes as óperas Carmem, de Bizet, La Traviata, de Verdi, A Flauta Mágica, de Mozart, e o Barbeiro de Sevilha, de Rossini. As duas primeiras são óperas dramáticas, com lindas árias. A terceira é uma ópera fantástica, filosófica e magistral criação do mestre Mozart. A última é uma ópera cômica deliciosa e divertida. Para os já iniciados, sugiro as óperas de Puccini, como La Bohéme e Turandot; Tristão e Isolda, de Wagner, e Der Mond, de Carl Orff. Essas obras podem ser facilmente encontradas em DVD ou, dada a (infelizmente) pobre produção operística em Brasília, apreciadas em teatros do Rio de Janeiro, São Paulo, Manaus e Belém, entre outros.

Outra dica é o programa Vesperal Lírica, da Brasília Super Rádio (FM – 89,9 MHz ou http://www.superfm.com.br/), que consiste na transmissão de óperas completas, aos sábados, das 17 às 20 horas, e o Bravíssimo, da mesma rádio, que apresenta aos domingos, das 19 às 20 horas, um confronto entre duas árias cantadas por dois intérpretes diferentes. E sempre com breves comentários para a informação e o deleite dos apreciadores do "bel canto".

Bom proveito e até a próxima!