segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Reflexões de fim de ano (2)

Há pouco tempo alguém me fez pensar em como pessoas outrora importantes se tornam completas estranhas nas nossas vidas.


Juras de amor eterno, amizades para além desta vida...


E foi assim que surgiu o título do post acima.

(não; não vou me deitar sobre o tema. Reticências cumprem muito bem seu papel aqui)

Reflexões de fim de ano (1)

Fim de ano. Chega mais uma vez aquele ímpeto de refletir sobre o que se passou.

A primeira das reflexões é acerca da curiosidade, virtude que considero uma das mais louváveis. Não consigo deixar de criticar a falta de curiosidade das pessoas. É o egocentrismo que ganha cada vez mais espaço, privando o mundo de maior espiritualidade, conhecimento, fraternidade. Visões estreitas e avessas à diversidade impedem as verdadeiras discussões, aquelas que nos trazem novas perguntas.

Esse egocentrismo tem fomentado nas pessoas um sentimento de tédio, como se pouco houvesse a ser feito. Incrível isso: Alienação! Talvez um daqueles clichês que lemos por aí seja bem verdadeiro: é tanta informação que a gente não sabe nem por onde começar.

Tento resumir aqui essa questão:
Tédio é um privilégio daqueles que têm uma visão muito estreita do mundo.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Tristeza produtiva

Estou há dias pensando em voltar a este meu cantinho para organizar algumas idéias. Acabei lembrando que só venho aqui nos momentos mais difíceis. Concluí que a felicidade não me é muito produtiva.

Lembrei também deste texto aqui e deste outro, e este e este e este, registros de momentos passados mas que guardam certa semelhança com o presente.

A vontade é de culpar alguém, alguma coisa, alguma ausência, algum excesso; mas não dá, não dá mais. É tudo minha culpa.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Schadenfreude

Incrementei meu humilde vocabulário no idioma de Goethe:

Schadenfreude (IPA: [ˈʃaːdənˌfʁɔʏdə]) - a German word meaning 'pleasure taken from someone else's misfortune'.

Curiosamente a palavra apareceu em bom (?) tempo. Traduz aquele sentimento que acomete algumas pessoas que têm prazer em ver a infelicidade alheia.

Acontece, meus caros, com mais freqüência do que podemos imaginar. Pior é quando vem disfarçado em atos ingênuos de pretensos amigos. Simplismos, soluções prontas, conselhos sempre a postos... cuidado! Há sempre uma dose de influência dos históricos pessoais, anseios, invejas etc. nesses atos. Parcimônia e reflexão é tudo o que posso recomendar.

Cheguei a pensar em me trancar em casa. Não mais veria ninguém. Até do amor pensei em fugir, ao som de "I'll Never Fall In Love Again":

I've been in love so many times / Thought I knew the score / But now you've treated me so wrong / I can't take anymore / And it looks like / I'm never gonna fall in love again / Fall in love, I'm never gonna fall in love / I mean it / Fall in love again / All those things I heard about you / I thought they were only lies / But when I caught you in his arms / I just broke down and cried / And it looks like / I'm never gonna fall in love again / Fall in love, no, I'm never gonna fall in love / I mean it, I mean it / Fall in love again / I gave my heart so easily / I cast aside my pride / But when you fell for someone else, baby / I broke up all inside / And it looks like I'm never gonna fall in love again / That's why I'm a-singin' it / Fall in love, no, I'm never gonna fall in love / Please don't make me / Fall in love again.

... felizmente essas idéias passam. O pessimismo vem em ondas e quebra lá longe.

(grazie, Cordelie, pelo envio do vocábulo e pela lembrança do sucesso de Tom Jones)

terça-feira, 14 de outubro de 2008

"Se puderes olhar, vê. Se podes ver, repara"

Finalmente assisti o filme "Ensaio sobre a Cegueira".

O dia para vê-lo não poderia ter sido melhor (ou pior, sei lá).

Quantas vezes mecanicamente olhamos mas não enxergamos?

Faltavam duas horas para o começo do filme. Por sorte, encontrei dois vizinhos do meu condomínio que haviam passado a tarde inteira caminhando (foram do final da asa norte até o Pontão e voltaram, passando pelo Brasília Shopping!) apenas para aproveitar o dia que estava bonito e conversarem. Me fizeram lembrar de um tempo que bastava a companhia de um bom amigo, nada mais, para fazer o dia feliz. Compartilhamos experiências diversas, entre elas um singelo teste por um deles sugerido:

Quando conheceres alguém interessante, faça ele(a) assistir "o Fabuloso Destino de Amélie Poulain" (claro que a dica vale para qualquer outro filme, livro ou música que você goste muito). Se não despertar nele(a) nenhum sentimento, avalie bem se é interessante mesmo.

Freqüentemente desprezamos pequenos sinais no nosso cotidiano, nos apegando ao que queremos que os fatos sejam/representem, ao invés de aceitar o que eles de fato são/representam. Não enxergamos.

Enfim, o filme, maravilhoso. Não há nada novo para dizer. As perguntas devem ser as mesmas que todos fazem ao ler o livro ou verem o filme:

- Como pode a falta de um dos nossos cinco sentidos acabar tão rápido com o pouco de civilidade que construímos ao longo de séculos?

- (essa aqui foi roubada de um amigo): Será que já não estamos desprovidos de um sentido que não nos permite ver a realidade como ela é? (só isso justificaria a nossa dificuldade de viver em paz com o próximo)

- Quando vivemos para a satisfação das nossas necessidades mais básicas, egoisticamente, o resultado pode ser desastroso para a sociedade como um todo, não?

- Nós somos 'aquilo' mesmo?

- Vemos, enxergamos, os dois ou nenhum?

- Quão grande seria o fardo de ser o único a enxergar? Como agir? Desistir? Cegar-se também?

(...)

Fui para casa um pouco mais tranquilo, não sei por quê.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Amor?


Algum psicólogo ou entendido do assunto de plantão aí?

São muitas as formas de amar, é verdade, e por isso ninguém há de me contestar. Umas simples, naturais, leves... outras exigentes, obsessivas. Muitas vezes, acho que quase sempre, uma mistura de 'estilos'.

Vou usar este cantinho de confessionário (de novo).
Eu admito não ser muito bom nessa matéria. Tudo começa bem e tal... até o dia que eu começo a questionar se sou realmente amado. Será que essas declarações de amor não são apenas momentos de impulso? Será que esse carinho não é fruto de um momento de carência que faz seu portador encontrar em mim breve porto seguro? Será verdade? Será mentira? Será? Será? E é então que as outras coisas começam a desmoronar, enquanto eu fico tentando ler mentes e interpretar silêncios (ou, às vezes, simples omissões).

Como hoje em dia raramente temos paciência e disposição para quaisquer coisas além dos nossos problemas, que já não são poucos, a solução encontrada tem sido a mais fácil. Tudo isso porque não tive as confirmações que quis para dúvidas que provavelmente eu mesmo inutilmente criei!

Racional? Sei que não. Mas se eu sinto, o que fazer? Ignorar o sentimento? Se for para ser racional, fico eu com meus livrinhos, meu piano, um cinema dia sim, dia não, os amigos. Mas não... quero algo que até hoje não vi ninguém alcançar. Nunca vi nada parecido. Espero conseguir, aprendendo e ensinando, a dois, pois ninguém precisa se submeter às amarras desse meu ideal.

Pronto, falei. Ou melhor, escrevi.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Semântica, filologia, lexicografia e outros assuntos dos quais nada sei


Eu compito, tu competes, ele compete...

Compito?!?

Às vezes me pergunto como certas palavras adquiriram seus significados.
Prevaricação, acutirrostro, farromeiro, repristinação...

Como pode uma sequência de sons, muitas vezes cacofônica, remeter-se a ação, objeto etc?

Dicionários respondem com fenômenos lingüísticos, históricos, culturais; mas não tiram minha inquietação com essa curiosa vinculação.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Sobre traição e lealdade (ou Crime e Castigo)



Uma história que ouvi recentemente me fez pensar no assunto. Não era assunto raro nos meus pensamentos mas, para minha própria sanidade, evitei por muito tempo.


...a gente nunca espera a traição, não é? Mesmo porque, se esperasse, não tinha porque namorar. Continuamente 'ficaríamos' com outros. Por mais que eu considere possível a hipótese de trair e ser traído, não sou hipócrita, não acho que valha a pena: tanto pelo mal que vai causar para o outro, para a relação e também para mim. São duas coisas para se pesar: a satisfação momentânea de um impulso e o namoro/encanto/respeito/etc... mas tudo isso varia, hoje eu sei, de relacionamento para relacionamento. Por isso devemos procurar alguém que compartilhe valores próximos.

O que me surpreende nas histórias que ouço por aí é: o que incomoda não é fazer, é ter que contar a traição para o outro. Isso eu não entendo. Como se, depois de fazer, não existisse uma verdade para se enfrentar. Não dizer não significa que a coisa não tenha sido feita. A verdade é uma só, dita ou não.

Se eu fosse dar vazão a todos meus impulsos, estava preso. Ou rico. Ou doente. Sei lá. Um pouquinho de respeito ao que eu acho importante me faz bem. E o outro agradece, tenho certeza.

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E um pouco de sabedoria popular: "Trair e coçar, é só começar".

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Pequeno conto

Desde pequeno não gostava de calçar sapatos. Vivia descalço e por isso riam dele.

Todas noites pedia em suas orações um belo par de sapatos para acabar com todo esse sofrimento que, ninguém sabe explicar ao certo, a falta de sapatos pode causar.

Um dia, não se sabe bem quando, seu pedido foi atendido. Estranho foi que ninguém percebeu de imediato a mudança, nem mesmo ele. Quando se deu conta já estava perambulando por aí, calçando lindos sapatos; só então veio a conta: "nunca tirarás esse par que, com o passar dos tempos, ficará mais e mais bonito".

De fato, com o tempo, as marcas, ao contrário do esperado, fizeram o par mais firme, forte e atraente. Todos reparavam. "Que belos sapatos!", exclamavam.

Um dia, após ter ouvido essa frase em jantares formais, em viagens de avião, nas poucas noites que entregou-se a alguém, nas filas de supermercado, nas noites em que saía de casa, nos pontos de ônibus, cansou-se.

Jogou-os em um precipício e, como deles não podia livrar-se, com eles foi.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Ano-novo, vida nova e breves comentários de retomada de atividade neste blog que andava, pobrezinho, tão largado, como este que aqui escreve

O primeiro dia do ano foi-se tão-somente para a cura da ressaca da festa de reveillón, regada a muiiiiito, muiiiiiito, muiiiiiito Chandon. Não fosse a visita de um amigo, teria a ressaca durado mais um dia. Um viva para os amigos que nos visitam e querem saber se estamos bem!

E se o ditado que diz que o que se faz no primeiro dia do ano se repete durante todo ele, estou f&¨%#*.

Mudando de assunto: assumi a tarefa de cuidar da gatinha de uns amigos que viajaram. Inicialmente, odiei a incumbência. Já no segundo dia me vi atraído pela xaninha (?); ela lá, me esperando para uns afagos, com aqueles olhos molhados e miado mole, como quem diz: "não vai não, me toca, me aperta, fica mais comigo". Ahn, tem os pêlos que tomam conta do ar, do sofá, da maçaneta da geladeira, da sua calça de trabalho, o cheiro da areia (eu acho que tá na hora de trocar), as súbitas mudanças de humor, do tipo: "ai, cansei do seu carinho, fssssss, sai pra lá", as garrinhas que furam sua bermuda e tudo mais... mas ela é fofa.

Tomei isso como um exercício de altruísmo, exercício extremamento válido, considerando-se o ano passado, egocêntrico até dizer chega. Tá na hora de colocar em prática com gente, não?