quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Arte das Musas - setembro/2007

Como já falei, todo mês sai um texto meu na intranet do ministério no qual trabalho. Abaixo copio o que escrevi neste mês. Lembro que o público é leigo e meu objetivo é trazer esse público mais para perto da música erudita. Comentários são bem-vindos.

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Quem se lembra de Tom Hulce e suas risadas histriônicas no seu papel de Mozart no vencedor de vários Oscars de 1984, “Amadeus”, ou do introspectivo Gary Oldman na pele de Beethoven em “Minha amada imortal”, já deve ter alguma idéia do que seja o classicismo. Isso porque Wolfgang Amadeus Mozart (Salzburgo, na atual Áustria, 1756 – Viena, 1791) e Ludwig van Beethoven (Bonn, Alemanha, 1770 – Viena, 1827) são, juntamente com Franz Joseph Haydn (Rohrau, Áustria, 1732 - Viena, 1809), os maiores expoentes da época.

Em “Amadeus”, conta-se uma história romantizada da vida de Mozart, inspirada em uma peça de Pushkin, na qual se trata da relação entre o Homem e Deus, entre o gênio e a mediocridade. No outro filme, o fio condutor é a história de uma carta de amor, escrita a lápis, encontrada após a morte de Beethoven, sem qualquer indicação sobre sua destinatária. "Meu anjo, meu tudo, meu eu…", dizia a carta, redigida em tom de lamento.

Seguindo com a apresentação dos períodos da música erudita, nesta coluna pretendo apresentar um pouco sobre o período clássico, que, como já mencionei anteriormente, costuma gerar confusões quanto à expressão “música clássica”. Lembremos que a música clássica é a música composta desde meados do século XVIII até o início do século XIX. Nessa fase, a música se caracterizou pelo zelo com a forma, pela simetria, evocando os ideais do Iluminismo, movimento humanitário e secular que enfatizava a razão, a lógica e o conhecimento.

Muitas vezes, ao lermos sobre música erudita, nos deparamos com o termo “sonata”. Na música clássica, ou seja, no período clássico, tivemos uma grande utilização dessa forma. Há que se lembrar que o termo pode denotar uma de suas duas acepções:

1) Sonata clássica: obra musical que contém três ou quatro movimentos, sendo o primeiro um movimento rápido, baseado na forma-sonata; um segundo, lento, muitas vezes em forma de variações; um terceiro movimento dançante (quando a sonata tem quatro movimentos), geralmente um minueto, dança remanescente da suíte (abordada na última coluna); e um quarto movimento de caráter mais enérgico, conclusivo.

É importante lembrar que movimentos são as ‘partes’ de uma obra, separadas por silêncio. Entre os movimentos, a intenção do compositor e dos intérpretes é preparar o ouvinte para um novo ‘clima’, motivo pelo qual os aplausos não são muito desejados entre os movimentos. Não se assuste quando estiver ouvindo uma sonata, ou uma sinfonia, e entre um movimento e outro apenas parte da platéia aplaudir e a outra derramar ‘shhhhs’, pedindo silêncio. Na dúvida, aguarde em silêncio. Ao final da obra, o(s) intérprete(s), no caso de obra instrumental, ou o maestro, no caso de obras sinfônicas (para orquestra), se levantará da sua cadeira ou se virará para o público, deixando claro o fim da execução.

2) Forma-sonata: forma musical que consiste em três partes: exposição, desenvolvimento e recapitulação. Na primeira, expõem-se os temas principais, geralmente dois ou três. No desenvolvimento, o compositor trabalha sobre os temas anteriormente apresentados. E, por fim, na recapitulação, os temas principais são reapresentados, geralmente com nova ‘roupagem’, de forma a causar um impacto no ouvinte.

Alguns podem perguntar: essa forma ficou restrita ao classicismo? Eu respondo: não. O que caracteriza o início do próximo período, o Romantismo, é a marginalização da preocupação com a forma, trocando-se o objetivismo pelo subjetivismo, pela emoção. Os períodos posteriores relaxaram a rigidez da forma, adaptando-a para seus objetivos.

Como já fiz anteriormente, e pressupondo que uma música fala mais que mil páginas, destaco a seguir algumas obras do período, por compositor, que considero relevantes.

J. Haydn

- Sonata para piano nº 50, em Ré maior, Hob. XVI. 37 (1º movimento: Allegro con brio);

- Quarteto de cordas em Si bemol maior, “da aurora”, Hob.III.78 (1º movimento: Allegro con spirito);

- Trio para piano, violino e violoncelo nº 20, em Si bemol maior (1º movimento);

- Concerto para violoncelo e orquestra em Dó maior (3º movimento: Allegro molto). O concerto é uma forma de composição na qual o compositor pretende destacar o virtuosismo de um instrumentista – neste caso, do violoncelista.

W. A. Mozart, o menino-prodígio:

- Sinfonia nº 40, K. 550, em sol menor (1º movimento: Molto allegro);

- Réquiem, em ré menor, K 626, última obra do compositor (Introitus e Kyrie).

Réquiem é uma missa para os mortos. Curioso que tenha sido esta a sua última obra, não?

- A Flauta Mágica, K 620 (Wie? Wie? Wie?);

Reparem que a letra K., seguida de um número, refere-se ao catálogo Köchel, criado pelo botânico e musicólogo Ludwig Köchel. Assim, o K. 1 foi a primeira obra catalogada de Mozart e o K.626, sua última.

L. van Beethoven, para quem o silêncio era música e dor:

- Sonata para piano nº 23, op. 57, Appasionata, em fá menor (1º movimento: Allegro assai);

- Concerto tríplice para piano, violino e orquestra em Dó maior, Op. 56 (3º movimento: Rondò alla polacca — Allegro — Tempo I)

- Sonata para violino e piano nº 9, Op. 47, “Kreutzer” (1º movimento: Adagio sostenuto - Presto);

Op., abreviatura de opus, significa "obra", sendo comumente utilizado no sentido de obra de arte. As peças musicais de alguns compositores são identificadas por um número opus, que geralmente é atribuído de acordo com a ordem de composição ou a ordem de publicação.

Adoraria escrever sobre os outros compositores da época, sobre o Mozart prodígio, sobre as angústias, a surdez e a impressionante evolução da música de Beethoven ao longo da sua vida, sobre a importância desses dois para a história da música ocidental, sobre a transição do classicismo para o romantismo ou me aprofundar nas obras acima destacadas. Entretanto, não há espaço para tanto. Mas aos que quiserem ir além, sintam-se à vontade e utilizem o espaço para comentários abaixo, apresentando suas dúvidas ou sugestões.

Abraços, bom proveito e até a próxima!

2 comentários:

Marcya disse...

No próximo recital, me avise!

Silvio Garcia Martins Filho disse...

Marcya, aviso sim, podechá!
Mas não tenho nenhum plano próximo. Eu me prometi parar um pouquinho pra estudar pra outros concursos... mas acabou que não estou fazendo nem um nem outro. Que coisa!
Bjo!