terça-feira, 31 de março de 2009

Moto perpétuo

Acho que até Deus cansou de tentar ser criativo. As histórias vão se repetindo. É tudo um pouco mais do mesmo.

Repito nesta semana um(a) 'viaje del olvido', a mesma de Fermina Daza no Amor nos Tempos do Cólera (imposição do seu pai para esquecer uma história de amor) e a mesma que fiz em 2004 para esquecer um amor contrariado (sim, seu destino tem cheiro de amêndoas amargas*!), com suas dolorosas idas e vindas. Vou ser padrinho de casamento de alguém que amo e para isso precisarei viajar. Vou perder a cerimônia (desta vez fraturei o braço e provavelmente não possa ser padrinho; em 2004 o taxista não encontrou o local da cerimônia). Espero que daqui pra frente outros detalhes não se repitam.

Só sei que tudo fica bem no final. Pra mim, com certeza.


* HCN - gás cianídrico

quinta-feira, 26 de março de 2009

Confissão

Como todo bom brasileiro, eu acredito em milagres.

terça-feira, 24 de março de 2009

Meu braço direito

Como costuma acontecer, só me dei conta da sua importância depois que o perdi.

Um brincadeirinha ingênua (não acreditava que aquilo poderia fazer tamanho mal) e o resultado foi trágico: duas semanas sem poder trabalhar, tocar piano, malhar, nadar, correr, pegar sol, passar tranquilamente o fio dental, ou arrumar o cabelo, ou espremer cravos... um pulinho só (de patins), uma queda de mal jeito e 'puf': duas semanas de molho em casa com o braço direito inteiro engessado.

Ainda bem que, diferentemente das nossas perdas e ganhos diários, essa não foi definitiva. Domingo eu tiro o gesso (faltam 106 horas!). Mas foi o suficiente pra nunca mais eu esquecer o quanto preciso dele, pra agradecer sua perfeição diariamente, cruzando as mãos (porque ainda as tenho) aos céus.

Tá, eu ainda não tenho pleno domínio das poliritmias, nem do staccato, nem do legato ao piano. Mas ao menos podia me aventurar no imenso repertório desse instrumento. Agora tenho o quê? O Concerto de Ravel pra mão esquerda... o de Prokofiev? ...e...? Não dá, não dá! Semana que vem vou escolher uma Sonata de Beethoven para presentear minha mão direita!

Além de todas essas dificuldades, percebi o quanto precisamos dos outros. Amigos vieram pra fazer lanches comigo, houve os que me ajudaram com o banho, os que me ajudaram com o cabelo e aqueles que simplesmente vieram pra ver se eu estava bem.

Ninguém é uma ilha, embora no passado eu quisesse acreditar nisso.

PS: indo para o hospital hoje, caía uma chuvinha, nada demais. Pensei: vou economizar um pouco e vou de ônibus, pois são apenas 4 quadras daqui de casa. Chegando no ponto de ônibus, cai o céu. As ruas viram rios. Não preciso dizer que fiquei encharcado. Todo mundo me olhando com cara de piedade (odeio!) e um senhor me pergunta: "caiu de moto?". "não, de patins". Ele tentou segurar o riso. Consegui ler seus pensamentos: "bichinha". Cheguei no hospital e me senti um Josué às avessas com o Jordão se abrindo atrás de mim, após tê-lo atravessado a nado com o braço direito engessado. E o sol também apareceu para zombar de mim. Paciência, viu?

Atualização em 30/03: mais 2 semanas de gesso, pois a fratura piorou. Cada dia que passa fica mais claro quem se importa e quem está apenas de passagem...

quinta-feira, 12 de março de 2009

Moicano for dummies

1º - Seque, usando um bom secador com difusor. Use escova de cerdas curtas. No começo quente e no final frio. Se você não souber o que estou falando, desista agora.
2º - Chapinha ajuda. Deixe seu preconceito de lado e use para dar mais firmeza ao penteado.
3º - Bagunce o cabelo com cera. Nao emplastre nem murrinhe. Muito deixa o cabelo pesado e pouco faz com que o cabelo perca logo o formato desejado.
4º - Laquê. Passe aos poucos, pra não deixar o cabelo úmido e fazer com que o troço todo desande. Deixe secar entre a primeira e segunda mão. Se for pra algum lugar fechado onde as pessoas fumem, use neutralizador de odores.

Outras diquinhas: Mantenha pessoas que te cumprimentam passando a mão no seu cabelo longe, muito longe. E desista de ir ao cinema (com o penteado, claro): é o cabelo ou o cinema. E se for passar a noite com alguém pela primeira vez, lave o cabelo antes de dormir. Se não der tempo, acorde antes dele(a), tome um banho (aproveite e escove os dentes, porque mau hálito não dá), tire bem toda essa meleca do cabelo (um removedor de resíduos vai bem), hidrate, seque e volte pra cama sem acordá-lo(a).

Faltou algo?

quarta-feira, 11 de março de 2009

Le Petit Prince

Pensei muito nele recentemente. Tentando racionalizar os ensinamentos recentes da vida, lembrei de um trechinho do livro:

"Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos."


Algo difícil no atual império da superficialidade. Chamamos de amigos e amores aqueles que mal conhecemos. Mas não era bem sobre esse aspecto que eu queria me debruçar.

Vamos lembrar do livro: O pequeno príncipe vivia sozinho num planeta do tamanho de uma casa que tinha três vulcões, dois ativos e um extinto (algo como a minha quitinete de 26 metros quadrados).

Tinha também uma formosa flor de grande beleza e igual orgulho. Foi o orgulho da rosa que arruinou a tranqüilidade do mundo do pequeno príncipe e o levou a começar uma viagem que o trouxe finalmente à Terra, onde encontrou diversos personagens a partir dos quais conseguiu descobrir o segredo do que é realmente importante na vida.



É...não adianta queremos mostrar pra alguém o que realmente é importante na vida.
Cada um vai construindo sua verdade à sua maneira. E isso é auto-conhecimento. Não por manuais de auto-ajuda, mas pela reflexão constante (ideal que fosse leve) sobre o que se nos acontece e rodeia. É viver conscientemente o passar do tempo.

Dito isso, algumas constatações: nos equivocamos na avaliação das coisas e das pessoas e esses julgamentos nos levam à solidão. Nos entregamos a nossas preocupações diárias, nos tornamos adultos de forma definitiva e esquecemos a criança que fomos. E não precisava do livro para nos lembrar que a rosa tem uma vida curta...


Assim veio a minha total sintonia com o trechinho do livro:
"O verdadeiro amor nunca se desgasta. Quanto mais se dá mais se tem."

terça-feira, 10 de março de 2009

Sobre tombos e túmulos


Coyote, desista!
Você sempre se ferra no final. Fica aí tentando, tentando, não obstante as provas irrefutáveis de que tudo vai dar errado. Você é o único a acreditar e isso não basta. Teimoso! Desista! No final só dói!

segunda-feira, 9 de março de 2009

O Amor nos tempos de hoje


Estou relendo pela terceira vez "O Amor nos Tempos do Cólera", de Gabriel García Márquez, provavelmente o meu predileto.

Acabei de reler um parágrafo que há uns quatro anos eu havia sublinhado, que descreve quando, em um dos jogos triviais da rotina do casal, os primeiros trinta anos de vida em comum de Fermina Daza e Juvenal Urbino estiveram a ponto de se acabar porque um dia qualquer não havia sabonete no banheiro:

"El incidente, por supuesto, les dio oportunidad de evocar otros, muchos otros pleitos minúsculos de otros tantos amaneceres turbios. Unos resentimientos revolvieron los otros, reabrieron cicatrices antiguas, las volvieron heridas nuevas, y ambos se asustaron con la comprobación desoladora de que en tantos años de lidia conyugal no habían hecho mucho más que pastorear rencores. Él llegó a proponer que se sometieran juntos a una confesión abierta, con el señor arzobispo si era preciso, para que fuera Dios quien decidiera como árbitro final si había o no había jabón en la jabonera del baño. Entonces ella, que tan buenos estribos tenía, los perdió con un grito histórico:
-¡A la mierda el señor arzobispo!"

Chegaram ambos ao final da vida juntos mas, por causa de uma discussão sobre se havia ou não sabonete na saboneteira, ficaram uns 3 meses sem falarem um com o outro e quase se foi uma chance provavelmente única (de recomeçarem separados ou de ficarem juntos, depende do ponto de vista do leitor). É claro, essa não foi a única razão da briga, pois havia outras pequenas questões latentes, ali debaixo do tapete. Foi o estopim. Mas... o que fazer? Desistir ou enfrentar juntos? Se o amor é verdadeiro, até nos tempos mais difíceis a resposta é óbvia; senão...
Uma pequena reflexão decorrente dessa leitura: "A sabedoria nos chega quando já não serve pra nada".

domingo, 8 de março de 2009

A COISA


Não; não me refiro ao palhaço imbecil que comia criançinhas do Stephen King. Tampouco ao iogurte gostoso do filme trash dos anos 80. Muito menos ao quadro da TV Pirata (ai, que saudade!).

Estou pensando agora na entidade que muita gente teima em utilizar de vez em quando. Tendo a acreditar que seja fruto do pouco pensar. 'Sabe aquela coisa que dá quando a gente...', ou então 'eu senti aquela coisa e, puf...'.

Pior ainda quando o uso dessa entidade polissemântica vem acompanhada dos clichês: "Essa coisa toda não é culpa sua, é minha". "Você é maravilhoso, só que alguma coisa mudou... não é que eu não te ame, claro, mas alguma coisa..."

Paciência! Um dia o vocabulário se expande e vem à tona o real significado disso tudo: o uso d'a coisa' é resultado do medo que costumamos ter de assumir nossas responsabilidades. É muito fácil culpar 'as coisas'. Vejo uns aí dizendo: as coisas não andam bem, por isso estou sem dinheiro ultimamente. Ou então: as coisas não vão bem entre nós, então acho melhor não nos vermos mais.

Que tal se o nosso presidente resolvesse dizer: as coisas no Brasil não vão bem, acho que vou deixar a presidência. Ou se todo casamento acabasse face à essa constatação. Ou a gente resolvesse mudar de profissão porque o emprego atual não anda bem. Caos, caos, caos.

Estabilidade? Difícil nestes dias de egoísmo e escapismo.
Que tal enfrentarmos a verdade? Dói mais no começo, mas dá paz de espírito.

Agora me deixem, que eu vou dar uma fugidinha...

PS: O porquê do bichinho aí em cima? Ele vai ser meu novo companheiro.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Último desejo (ou 'do anel de vidro')

Que esta seja a última vez que eu canto essa musiquinha:

Nosso amor que eu não esqueço
E que teve o seu começo numa festa de São João
Morre hoje sem foguete, sem retrato e sem bilhete
Sem luar, sem violão
Perto de você me calo
Tudo penso e nada falo, tenho medo de chorar
Nunca mais quero o seu beijo
Mas meu último desejo você não pode negar
Se alguma pessoa amiga pedir que você lhe diga
Se você me quer ou não
Diga que você me adora, que você lamenta e chora
A nossa separação
Às pessoas que eu detesto
Diga sempre que eu não presto, que meu lar é o botequim
E que eu arruinei sua vida
Que eu não mereço a comida que você pagou pra mim

(...)

domingo, 1 de março de 2009

Crime ou castigo?


Raskolnikov, me diga: você escrevia nas páginas dos livros que lia?

Não era esse também um crime que afligia sua pobre alma de estudante: ver seu Novo Testamento todo rabiscado, expondo idéias, dúvidas e certezas de outrora, agora parecendo as de outrem?

Ou então o fato de nunca ter deixado sua marca em nada, passando por tudo de forma imperceptível, deixado marcas apenas deléveis. Foi por isso que mataste, querendo fazer algo definitivo? Lisavieta foi mesmo um mero acidente?

Você, que queria tanto fazer algo importante... Você, que poderia ter escolhido... mas não o fez. Pena.

(...eu escrevo e, pelo menos nas linhas, fico.)