terça-feira, 31 de julho de 2007

Sil(vi)ogismo

Deus, perfeito, ama o Homem.
Este é cópia imperfeita Daquele.
Logo o amor do Homem é imperfeito.

sábado, 28 de julho de 2007

...E o Vento Levou

A cada fracasso amoroso, uma dor aguda de morte.
É um pouco de nós que morre.
O amor, alimento supremo, se esvai.
Dói como da primeira vez, senão mais.
E assim, nos tornamos mais duros, céticos, medrosos, introvertidos, egoístas, mesquinhos.
...o tempo passa, e as chances de dividir a vida com alguém só parecem diminuir.

Por que viver algo que tem fim?

A vida é assim: um dia morremos.
Mas viver, um dom (?), nada mais é que fruto da escolha (?) dos nossos pais.

Se tudo acaba, até a vida, pra que começar quando podemos escolher não fazê-lo?
Muita gente diz que vale a pena o caminho percorrido, as experiências vividas.
Eu não sei mais.
Só sei que sozinhos nascemos... e morremos.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Arte das Musas - julho/2007

Não importam muito as razões que me impediram recentemente de escrever outro post para este blog, mas a que me faz voltar aqui: vim registrar um texto meu que foi publicado na intranet do Ministério para o qual trabalho. Virei colunista de música erudita! Esse texto é o primeiro de uma série. Pretendo todo começo de mês copiar os textos neste blog.

Arte das Musas - jul/2007.

Muitas perguntas surgiram quando comecei a rascunhar este texto: como e por que escrever sobre música para um espaço onde até hoje só se havia tratado de assuntos diretamente afetos ao trabalho? E por que erudita? Deixando de lado a minha paixão pela música que me impele a falar sobre o assunto horas a fio, que razão exterior me faria escrever sobre o tema?

Aos poucos foram surgindo algumas respostas. Perguntas novas também.

Assim, pretendo com essa coluna, graças à oportunidade dada pela ASCOM, iniciar um debate sobre a matéria (e para isso conto com o retorno dos leitores!), apresentando algumas idéias bem pessoais que não ouso trazer de forma alguma como verdades absolutas. É um desafio pessoal bem interessante: apresentar conceitos, histórias, curiosidades e dicas, relembrando a época em que o meu gosto pela música ainda era desacompanhado de conhecimentos técnicos. Alguém – foi Frank Zappa? – certa vez disse que “escrever sobre música é como dançar sobre pintura”. Está feito e aceito o desafio.

Há que se lembrar que na Antiguidade a música era dotada de elevado valor para o desenvolvimento intelectual e para a formação do homem. Também a música tem sido constantemente utilizada como instrumento de trabalho psicológico e social. Tampouco se pode esquecer do simples fato de que proporciona prazer. Então à minha primeira pergunta, além destas ponderações, acrescento outra: por que não falar de música?

Mas por que música erudita? Cabe aqui lembrar que uma das divisões mais usuais da música abarca quatro grupos, cada qual com inúmeras subdivisões: música erudita, música popular, música folclórica ou tradicional e música religiosa. Rebato veementemente qualquer afirmação sobre a superioridade deste ou daquele grupo. Entretanto, como a vida é feita de escolhas e dolorosas renúncias, optei pela música erudita, à qual me dedico há mais de 10 anos.

Com as devidas respostas muito resumidamente postas, inicio a discussão propriamente dita com uma afirmação por muitos contestada: gosto se discute. Explico melhor: não discutiria o fato de alguém ter gostado da 5ª sinfonia de Beethoven. Entretanto, frente a uma afirmação do horror que é a Sagração da Primavera, de Stravinsky, eu perguntaria: por que horrível?

Não podemos julgar um conceito musical com nossa percepção contemporânea. Façamos um paralelo com a pintura: não podemos dizer que um quadro de Giotto (1266-1337) ou de Picasso (1881-1973) seja feio porque não corresponde à realidade. Suas obras são manifestações originalíssimas das suas épocas, o primeiro trazendo inovações na matéria da perspectiva e o segundo com sua leitura “cubista”. Eles respondiam com suas obras a questões muito contemporâneas – a eles, claro. Mas àqueles que compreendem a inovação daquele balé de Stravinsky, da sua ‘nova’ linguagem moderna, do desafio que foi posto a tudo que era conhecido até então e que, mesmo assim, simplesmente não gostem da música, paciência... Apenas propugno que antes de afirmarem que não gostam desta ou daquela manifestação artística as pessoas se permitam investigar um pouquinho sobre ela, desarmar-se dos preconceitos e simplesmente sentir, tendo aquele conhecimento por pano de fundo.

Quando o assunto é música erudita, Brasília é a cidade das oportunidades para quem quer começar a conhecer ou mesmo para quem simplesmente quer se permitir alguns minutos de deleite com os grandes compositores da música dita universal. Há muita boa música gratuita ou a preços acessíveis, o que, ressalte-se, não é muito comum Brasil afora. Talvez isso se deva ao grande número de bons músicos de que a cidade dispõe. Há a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro, que se apresenta todas as terças-feiras, às 20h, com ingressos gratuitamente distribuídos a partir das 12h do dia anterior na bilheteria da Villa-Lobos, sala onde acontecem os concertos. Para os que não conseguiram pegar ingressos, há a chance de ficar em uma fila para a qual o ingresso é permitido 5 minutos antes do começo do concerto, até o limite da lotação da sala. Há recitais semanais, também gratuitos e de elevado nível, no auditório da Casa Thomas Jefferson da SEP Sul EQ 706/906. Por fim, podemos encontrar boa música no auditório do Departamento de Música da Universidade de Brasília ou na Escola de Música de Brasília, com alunos, professores e/ou convidados. Quanto a estas duas últimas sugestões, uma dica: confirme programação e horários, que são muitos e variados, antes de se deslocar até lá. Isso não quer dizer, entretanto, que não estejamos sujeitos a decepções naquelas duas outras salas também, claro. Por fim, há muitas apresentações interessantes no Centro Cultural Banco do Brasil e na sala Martins Pena, cujas programações podem ser conferidas no Correio Braziliense.

Uma vez vencida a inércia que nos faz seguir do trabalho direto para casa, aliada à onipresente e “moderna” desculpa da falta de tempo, permita-se começar um concerto ou recital desacompanhado dos problemas cotidianos ou profissionais. Deixe seu relógio guardado, desligue o celular (por você, pelos seus vizinhos de platéia, pelos músicos e pela música), aliene-se do tempo e entregue-se ao discurso... Sim, porque música é discurso não-verbal. Concentre-se, ouça cada frase musical como um argumento, procure criar conexões entre as frases, dê um sentido a cada uma e ao todo. Essa liberdade de entendimentos é o que torna a música erudita tão incrível.

Nas próximas colunas pretendo continuar abordando temas que, quiçá, permitirão àqueles que não tiveram contato com a música erudita possam dela se aproximar, desvendando seus mistérios e, para os que já têm alguma familiaridade, que este seja um momento de troca. Falarei um pouco mais sobre a idéia de música como discurso e, com base nisso, apresentarei alguns conceitos importantes, períodos, estilos e compositores. Muito há por apresentar, mas o espaço é exíguo. Enquanto isso, estou aberto para comentários, sugestões, perguntas e ponderações que certamente contribuirão para se constitua aqui um espaço efetivo e profícuo de discussão.