terça-feira, 24 de março de 2009

Meu braço direito

Como costuma acontecer, só me dei conta da sua importância depois que o perdi.

Um brincadeirinha ingênua (não acreditava que aquilo poderia fazer tamanho mal) e o resultado foi trágico: duas semanas sem poder trabalhar, tocar piano, malhar, nadar, correr, pegar sol, passar tranquilamente o fio dental, ou arrumar o cabelo, ou espremer cravos... um pulinho só (de patins), uma queda de mal jeito e 'puf': duas semanas de molho em casa com o braço direito inteiro engessado.

Ainda bem que, diferentemente das nossas perdas e ganhos diários, essa não foi definitiva. Domingo eu tiro o gesso (faltam 106 horas!). Mas foi o suficiente pra nunca mais eu esquecer o quanto preciso dele, pra agradecer sua perfeição diariamente, cruzando as mãos (porque ainda as tenho) aos céus.

Tá, eu ainda não tenho pleno domínio das poliritmias, nem do staccato, nem do legato ao piano. Mas ao menos podia me aventurar no imenso repertório desse instrumento. Agora tenho o quê? O Concerto de Ravel pra mão esquerda... o de Prokofiev? ...e...? Não dá, não dá! Semana que vem vou escolher uma Sonata de Beethoven para presentear minha mão direita!

Além de todas essas dificuldades, percebi o quanto precisamos dos outros. Amigos vieram pra fazer lanches comigo, houve os que me ajudaram com o banho, os que me ajudaram com o cabelo e aqueles que simplesmente vieram pra ver se eu estava bem.

Ninguém é uma ilha, embora no passado eu quisesse acreditar nisso.

PS: indo para o hospital hoje, caía uma chuvinha, nada demais. Pensei: vou economizar um pouco e vou de ônibus, pois são apenas 4 quadras daqui de casa. Chegando no ponto de ônibus, cai o céu. As ruas viram rios. Não preciso dizer que fiquei encharcado. Todo mundo me olhando com cara de piedade (odeio!) e um senhor me pergunta: "caiu de moto?". "não, de patins". Ele tentou segurar o riso. Consegui ler seus pensamentos: "bichinha". Cheguei no hospital e me senti um Josué às avessas com o Jordão se abrindo atrás de mim, após tê-lo atravessado a nado com o braço direito engessado. E o sol também apareceu para zombar de mim. Paciência, viu?

Atualização em 30/03: mais 2 semanas de gesso, pois a fratura piorou. Cada dia que passa fica mais claro quem se importa e quem está apenas de passagem...

5 comentários:

Marcya disse...

Mas você acredita que eu cheguei a rascunhar um texto para o blog intitulado "Minha Mão Esquerda"?
Só que arranquei o gesso antes de terminar de escrever...
:o)))
Espero que você também se livre logo do seu! Beijos!

Jane M disse...

"Ninguém é uma ilha, embora no passado eu quisesse acreditar nisso." - AINDA BEM! Eu vivo continuamente querendo acreditar e desacredintando nisso.
E o moicano? Só não me diga q vc passou máquina dois em sinal de protesto.
Bjo

Silvio Garcia Martins Filho disse...

Marcya, difícil não lembrar do filme (trocados os membros e, no meu caso, o lado indicado tb), né?
Contando as horas aqui pro fim disso. Já estou tendo pesadelos, pois me disseram que meu braço vai diminuir e ficar ainda mais branco!

Jane,
Meu novo mantra. ;)
Moicano intacto ainda. Mas não tem como arrumá-lo, então nem saio de casa direito pq tá meio feio, hehehe.

Beijos!

Paula Barros disse...

Menino, você faz isso tudo, malha, corre, anda de patins, toma sol, toca piano, e até passa fio dental tranquilamente....?

Bem que eu desconfiava que você não era desse planeta.

Agora começo a ter certeza que milagres existem.

E o braço está melhor?

Ainda consegue escrever de uma forma que me fez rir.

bjs

Silvio Garcia Martins Filho disse...

Paula, fazia... agora tdo isso está bem prejudicado.

Mas, como tudo nesta vida, é temporário.

Beijão!