segunda-feira, 9 de março de 2009

O Amor nos tempos de hoje


Estou relendo pela terceira vez "O Amor nos Tempos do Cólera", de Gabriel García Márquez, provavelmente o meu predileto.

Acabei de reler um parágrafo que há uns quatro anos eu havia sublinhado, que descreve quando, em um dos jogos triviais da rotina do casal, os primeiros trinta anos de vida em comum de Fermina Daza e Juvenal Urbino estiveram a ponto de se acabar porque um dia qualquer não havia sabonete no banheiro:

"El incidente, por supuesto, les dio oportunidad de evocar otros, muchos otros pleitos minúsculos de otros tantos amaneceres turbios. Unos resentimientos revolvieron los otros, reabrieron cicatrices antiguas, las volvieron heridas nuevas, y ambos se asustaron con la comprobación desoladora de que en tantos años de lidia conyugal no habían hecho mucho más que pastorear rencores. Él llegó a proponer que se sometieran juntos a una confesión abierta, con el señor arzobispo si era preciso, para que fuera Dios quien decidiera como árbitro final si había o no había jabón en la jabonera del baño. Entonces ella, que tan buenos estribos tenía, los perdió con un grito histórico:
-¡A la mierda el señor arzobispo!"

Chegaram ambos ao final da vida juntos mas, por causa de uma discussão sobre se havia ou não sabonete na saboneteira, ficaram uns 3 meses sem falarem um com o outro e quase se foi uma chance provavelmente única (de recomeçarem separados ou de ficarem juntos, depende do ponto de vista do leitor). É claro, essa não foi a única razão da briga, pois havia outras pequenas questões latentes, ali debaixo do tapete. Foi o estopim. Mas... o que fazer? Desistir ou enfrentar juntos? Se o amor é verdadeiro, até nos tempos mais difíceis a resposta é óbvia; senão...
Uma pequena reflexão decorrente dessa leitura: "A sabedoria nos chega quando já não serve pra nada".

3 comentários:

Silvio Garcia Martins Filho disse...

Este post teve alguma inspiração desse aqui:
http://proboscida.blogspot.com/2009/03/quanto-maor-altura-maior-queda.html

Marcya disse...

Sim. E às vezes, a sabedoria não chega nunca... E cabe somente ao coração decidir se há sabonete na saboneteira ou não.

;o)

Silvio Garcia Martins Filho disse...

Só que muita gente teima em racionalizar tudo (e mal). Uma pena!

Não consigo deixar de lembrar do Pequeno príncipe:

"Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos."