quinta-feira, 8 de abril de 2010

So long, farewell, au revoir, auf wiedersehen (ou confissões)

Assim não dá. Fico um tempinho longe daqui, as idéias borbulhando, mas na hora de escrever mal sei por onde começar.

Algum tempo atrás assisti o argentino "O segredo dos seus olhos". Muito poderia falar sobre ele, da genial mistura de gêneros (policial, drama e comédia), das memórias, do passado e presente, atuações, maquiagem e fotografia ou de como amei o filme e como sempre assisto filmes emblemáticos em momentos igualmente emblemáticos da minha vida. Mas não. Resolvi destacar uma cena sem maior importância: o casal de protagonistas está conversando à mesa e ela, sem nenhuma cerimônia, vai embora. Não que estivesse chateada, que tivessem brigado. Simplesmente o assunto acabou e ela se foi. Pode não ter sido bem assim, mas foi essa impressão que tive e que me fez pensar no que confesso a seguir.

Despedidas sempre me são demoradas. Penso sempre haver tempo para um cafezinho a mais, ou outro beijo ou abraço. A sensação é a de que eu posso morrer logo e nunca mais encontrar a pessoa. É tão bom conversar, trocar idéias, conhecer e deixar-se conhecer, que esses momentos poderiam durar para sempre. Então, como assim, levantar e ir embora sem um abraço mais demorado?

Admito: invejei o desprendimento, a leveza, a paz com que apenas com olhares eles se dizem 'até mais'. Essa ansiedade que me consome me priva com muita frequência de aproveitar melhor ainda as coisas.

Olcadil?

9 comentários:

Garoto do Bloco E disse...

Concordo com o fato de que vc deveria ser menos radical ao dizer que pode morrer logo e nunca mais encontrar a pessoa - apesar de, em parte, achar totalmente admissível e possível.. mas sejamos positivos. (rs)
Logo, no fim das contas, é verdade que as pessoas se lamentam ao perderem pessoas amadas e não terem se despedido com um beijo, um abraço.. e às vezes se lamentam por isso por toda a vida.
Então, o beijo, o abraço (essas demonstrações carinhosas)também tomam um caráter de obrigação moral pra cada um: "me dê um beijo! Amanhã posso não te ver mais...". Isso pode parecer duro, sem um múnimo de subjetividade e sentimento, num primeiro momento, porém é, indubitavelmente, uma maneira de um pai opressor, um namorado orgulhoso e até de um homem machista poderem externalizar seus corações sensíveis e seus amados terem a oportunidade de ouvir, de fato, que são amados, sem nenhum pretexto. Talvez essa seja uma grande parte da fórmula para um mundo mais feliz.
Porém, há um outro lado a se pensar.. Eu mesmo já sou esse caso a parte. Não por ser egoísta, mas por ser corajoso: às vezes prefiro arriscar e sair 'sem me despedir', instigando uma saudade, do que me expressar abertamente e botar tudo a perder, pois é um fato que as pessoas de hoje não dão valor ao que é fácil. Talvez eu ponha tudo a perder com essa 'não expressão de sentimentos', mas acredito que os que valem a pena são aqueles que continuam ao meu lado mesmo assim. Não acha?
Mas com certeza há um limite. Ninguém suporta uma pessoa que é incapaz de dizer ao menos "eu gosto de vc". Eu sou quase incapaz disso, e quase sempre "saio do restaurante sem me despedir"... Mas quase. Há algumas pessoas (que, aliás, eu conto nos dedos) que realmente merecem ouvir que são queridas, amadas - mas até essas levam um tempo para ouvirem isso.
Então, se vc ainda espera um "beijo de despedida no restaurante", não deixe a ansiedade te tomar - Talvez haja um dia em que vc receberá não só um beijo de sobremesa, mas uma tarde inteira de amor... =)

Saulo disse...

Genten, quem é esse "garoto do bloco E"?! Que comentário longuííííííssimo, enjoei de ler no meio... Da próxima vez, deixe nos comentários apenas o link do seu próprio blog -- que eu sugiro fundar imediatamente!

Saulo disse...

Ah, e sair sem se despedir só pode quando há a certeza do reencontro, quando o olhar já expressa o carinho e a vontade de se ver de novo em breve. Se não for assim, é falta de educação mesmo. Ou é porque o papo acabou mesmo... Ou, infelizmente, porque em vez do "tchau" poderia sair um "vai si fudê!"...

popfabi disse...

querido, sou como você. adio as despedidas, ansiando por um novo encontro - mesmo quando nem é tão merecido. mas, ao invés de ocadil, optei pela meditação - TO LET GO, qualquer que seja a situação (inclusive na morte)é um ato de amor próprio e de amor ao próximo. simples assim. complicado pra vida toda. beijo

Fábio Leão disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tom disse...

a vida passa muito depressa pra gente perder tempo e não ser feliz. Outro dia vi uma frase que dizia: "nascemos sem pedir e morremos sem querer". Achei verdadeira, apesar de cruel. Mas enquanto vivos, podemos escolher. E muitas vezes escolher... é mais difícil do que ser feliz.

Gostei deste lugar.
Abraços.
Us.

Silvio Garcia Martins Filho disse...

Garoto, proposta tentadora! ;)

CK, deixa o menino comentar em paz!
E sim, essa saída muitas vezes pode significar indiferença... mas ambos vão saber o que houve, tenho certeza.

Fabi, estou precisando de soluções 'simples assim'. ;)

Fábio, obrigado pelo contato. Prazer em conhecê-lo.

Mr. Tom., espero q faça boas escolhas e volte aqui mais vezes. Aguardo ansiosamente novos posts seus. Abração!

Felipe Rosa disse...

Vivo numa sensação de "4 minutes" para o mundo acabar. Não sou só eu. Mas sempre parece que a festa é a última, o encontro pode não se repetir (e as vezes não se repete, rs), as oportunidades são realmente única... e dai, por pura ansiedade, sempre meto os pés pelas mãos. Esse eterno presente que mesmo no primeiro semestre de psicologia aprendi do que se tratava. A constância do objeto que não foi alcançada. Sabe criança que a mãe deixa na creche e abre o berreiro? Ou que basta esconder algo pra pensar que não existe mais? Mesma coisa.

Paulo Victor disse...

poxa, vida! spoiler!
mas com certeza só pra mim. devo ser o único mané q ainda não viu esse filme. comi bola. deixei passar...

mas isso me fez lembrar um amigo que, na infância, criava pra si cenas a la beleza americana: qdo comia cachorro quente, na rua, ele chorava ao ver os saquinhos q as pessoas jogavam fora e iam-se com o vento.
ficava pensando no saco vagando, sozinho, sem despedidas, sem companhia sem direção... isso sim é precisar de remédio... hehe.