segunda-feira, 12 de julho de 2010

Idas e retornos - ou da sabedoria popular

Saudade deste meu cantinho. Muitas coisas me mantiveram ocupado recentemente; algumas boas, outras nem tanto.

Vários textinhos já estão rascunhados nesta cabeça confusa. Mas preferi (re)começar com este.

A inspiração veio da seguinte afirmação: "Algumas verdades deveriam ficar esquecidas. Algumas caixas de Pandora devem ficar fechadas". Não lembro se foi bem isso que a moça disse em Fringe, seriado que há tempos não vejo e nem sei se vou voltar a ver... mas a mensagem ficou clara.







Caixa de Pandora - Arthur Rackham


Fiquei curioso recentemente quando uma amiga me contou suas experiências com uma vidente/taróloga. Como ela havia acertado nomes, datas, fatos... e, não sabemos se causa ou consequência, influenciado suas decisões.

O futuro está escrito, cabendo a nós apenas percorrermos o que se nos cabe ou temos alguma escolha? Mais um vez, sabedoria clichê de seriados. Não tem como não lembrar de Lost, não é mesmo?

Mas será que se eu fosse lá consultar a senhora das cartas eu ainda continuaria tocando piano, trabalhando ou fazendo meu serviço voluntário aos sábados no Hospital de Base? Será que eu manteria algumas amizades e me permitiria amar de novo? O que eu continuaria fazendo se eu soubesse a data da minha morte?

Aqui vai uma singela confissão: um sonho se me repete quase todas as noites: estou caindo de um prédio e vejo o chão chegando. Eu sei que vai doer. Acho que a morte dói, como todas as outras pequenas mortes diárias. Por que será que esse é o único sonho que eu tenho? Acordo sempre cansado e não lembro de mais nada. Se a vidente me tirasse essas dúvidas eu sofreria menos? Ou mais?

Acho que a graça da vida é a sua transitoriedade. Quem não lembra de um amor intenso de verão vivido no último volume justamente porque se contava quantos dias faltavam para a dolorosa despedida?

E assim creio que deve ser: a dúvida acerca daquele caminho inexorável, inevitável para a morte nos mantém livres para gozá-la com maior desprendimento.

16 comentários:

Druidan disse...

Mas as tarologas também podem ajudar... podem dar esperança, podem te dar uma luz, em uma escuridão que você não conseguia entender.

Você não deve ir atrás de saber exatamente o q vai acontecer, até porque apesar de algumas coisas serem fixas em nosso destino, o caminho, os meios e até as conseqüências mudam todo dia, a cada escolha que fazemos, seja por um copo de água ou outra xícara de café. Pelo menos eu acredito nisso... Penso que todos vamos viver algumas histórias, independente de tudo, mas a forma que vamos viver, o quanto vão durar, e o que vamos aprender com elas, ninguém pode dizer ou definir.

Penso também que todos sabemos que vamos morrer, para alguns saber o dia exato pode ajudar a aproveitar mais o tempo que resta, para outros, vai estragar todos os dias até a contagem final.

A vida é um mistério, e nem o mais brilhante medium pode prevê-la com certeza.

Ps.: assista "Te amarei para Sempre" ou "A mulher do viajante no tempo" não sei qual o nome ao certo está no Brasil. Além de ser meu novo filme predileto, talvez te ajude com algumas dessas questões. (já aviso que é muito triste, mas bonito)

diosaint disse...

Eu tenho a seguinte teoria: sonhos que a gente lembra não acontecem; os que lembramos, acontecem e, quando isso ocorre, temos a sensação de déjà vu... Que bom que vc lembra da parte que está caindo!!! =)

Cynthia Le Bourlegat disse...

Oi Silvio!
Então, sabe na no começo da faculdade, uma japa doida bebada leu minha mão e hoje lembro que tudo o que ela falou aconteceu: que eu conheceria a pessoa que me casaria no final daquele ano, viajaria bastante, conheceria vários países e que teria dois meninos. Mas penso: será que ela não me influenciou com suas previsões?
Sempre tenho sonhos bizarros, alguns já aconteceram a ponto de eu me achar um meio "super", mas outros nunca aconteceram, por sorte... gostei do seu post!
beijos

Ivana Gurgel disse...

Lindo teu post. E adorei o que disse Druidan. O tarô não é uma forma de descobrir o futuro, mas de descobrir a si mesmo. Sempre achei mais importante a nossa reação aos caminhos que são oferecidos pelo baralho do que os caminhos em si. É essa reação que nos permite entrar em contato com nossas angústias e desejos, e às vezes vê-los mais claramente. Às vezes isso traz paz, às vezes não... Mas não é surpreendente que algumas de nossas escolhas terminem nos levando por caminhos que tinham sido revelados como possíveis.
Não tem outro jeito: arriscar-se, viver cada dia como o último, focar nos ganhos, superar as perdas. Complicado assim!
Beijos

Rodrigo disse...

Permita-me contrapor: não procure taróloga para interpretação dos sonhos, procure um psicanalista. Assim, as dúvidas não seriam tiradas pela vidente, mas por você mesmo em seu (des)conhecimento. Ainda respeitosamente discordando, acredito que a morte não seja dolorida, e sim prazerosa. Se o "la petit mort" é uma delícia, imagine "la grand" rs... Acho que o que dói diariamente são as experiências que nos conscientizam de nossa mortalidade. Enfim, algo a se pensar. Obrigado pelo post.

Fábio Leão disse...

Hum... Texto muito interessante.
Vamos comentar por partes:

1º - Cheguei à conclusão de que saudade é perda de tempo, pois sentir saudades, muitas vezes dói e não há como reviver aqueles momentos de alegria.

2º - "Algumas verdades deveriam ficar esquecidas. Algumas caixas de Pandora devem ficar fechadas". Concordo em partes desse trecho. A verdade sempre é o 'melhor pedido', porém, tudo no seu tempo. Para que ir a uma vidente saber do futuro, sendo que você ainda vai viver este futuro. Tenha paciência. Nem sempre o que ela vai dizer será a verdade!

3º - Você diz: "Será que eu manteria algumas amizades e me permitiria amar de novo?". Minha opinião é a seguinte: Você pode amar de novo, basta querer! Olhe para o que há ao seu redor. Abra os seus olhos. Talvez o que você mais deseja já está presente em sua vida, basta você saber olhar e tomar a decisão certa.

4º - Não fale tanto de morte. Você tem que pensar em viver, em vida. És um rapaz jovem, inteligente etc. Muitos desejam a sua felicidade. Muitos te amam!

Acho que é isso! Huahuahua...
Um forte e caloroso abraço pra você, Sil.
Não sei o motivo, mas gosto de você.

Saulo disse...

Que belo texto! Amei muito, Babes! Mas como vc tem comentadores faladores, o povo comenta em textos maiores que o post! :)

Silvio Garcia Martins Filho disse...

Druidan,
às vzs a luz cega. Não sei se sou paciente pra esperar me acostumar com ela. Acho que vou preferir o mistério da dúvida. E obrigado pelas dicas de filmes. Vou procurar. :)

Diogo, espero que a teoria esteja ceta. Mas, se não estiver, saiba desde agora que já me sinto de certa forma realizado. Não tenho apego a qse nada... só tenho a agradecer.

Cynthia, obrigado pela visita! :)
Eu também costumava brincar de ler cartas há mtos anos. Será que alguém me levou a sério?

Ivana, estou gostando muito de poder compartilhar com vc um pouquinho da minha intimidade. Estou curioso pra conhecer mais suas opiniões acerca desses assuntos.

Rodrigo,
não vou atrás da taróloga não. O post foi apenas um 'just sharing'> Mas qse fui. Qto ao sonho, apesar de as vzs googlar alguns, acredito que são apenas impulsos elétricos sem sentido, triste assim. Qto à dor da morte, não quis ser tão profundo. Apenas quis dizer que se qdo a gente dá com a cara na parede dói, imagina cair de um prédio de 6 andares. Imagino meus pés chegando primeiro (não sei pq, depois pouco a pouco a parte de cima, até sentir a cabeça encostando e explodindo. macabro, né? Senseless, I hope.

Fábio, diariamente fazemos coisas que são pura perda de tempo, difícil mudar isso. :P Mas estou tratando de ser mais paciente. Obrigado pelo carinho!

Cordelie, xuxu! Que bom que vc gostou. Sabes qto sua opinião é importante pra mim. E deixe meus comentadores em paz. Qto maiores, melhores (os comentários)!!! Amo cada um! ;)

Beijos a todos.

Unknown disse...

Silvinho, como conversamos sobre o assunto mas não terminamos, vou escrever um pouquinho.

O texto é lindo e confuso ao mesmo tempo, como nossas vidas. Não confuso semântica ou gramaticalmente, mas nos passa a confusão de ansiedades e desejos que todos nós temos, uns mais intensos outros menos.

Cada momento de escolha é terrível (ainda mais para libriana como eu!). Melhor saber quando e como vamos morrer ou se pegamos a estrada mais curta e perigosa ou a mais longa e segura. Como você, não tenho a resposta.

A única coisa que tenho certeza é que temos a chance dessa única vida (podem ser várias mas não tenho certeza) para sermos felizes, não existe fecilidade plena, mas momentos de felicidade, que temos que buscar e aceitar e pararmos de interpretar tudo.

Um episódio que aconteceu comigo há algumas semanas me tirou do sério: perdi o meu cartão de débito antes de viajar. Reclamei, briguei comigo mesma, como aquilo poderia ter acontecido, nunca tinha perdido um cartão, justamente naquela hora mais imprópria. Na semana passada descobri que o caixa eletrônico que saco dinheiro tinha sido "hakeado" e várias contas, mais de 100, limpadas pelos ladrões. Como a minha senha tinha sido bloqueada nenhuma chance de acontecer comigo. Assim, nem sempre tudo que parece ruim é tão ruim assim, quantas vezes não nos deparamos com casos como esses em nossas vidas, simplemesmente porque desconhecemos o futuro. Então, o que nos resta é aproveitar o que temos e viver o presente e buscar o que queremos para aproveitar o futuro. Uma pena que não podemos ter tudo...

Já estou com saudades. Bjim.

L disse...

Sabe que o Nando é otimo em decifrar sonhos, à luz da psicologia, claro? conversa com ele...

Felipe Rosa disse...

Será?

Felipe Rosa disse...

Comentando os comentários, eu trabalho com sonhos. E desde que comecei cada vez me surpreendo mais. É uma coisa simplesmente absurda e "mágica".
E, na verdade, podem muito bem ser simples "impulsos elétricos sem sentido", por si mesmos. A grande questão é que nós significamos tudo que nos rodeia, só assim apreendemos a realidade (mediada). Desde a pedra da rua até uma obra de arte. Então significamos tais impulsos também. E, como o mundo todo, isso fala da gente também.

Por exemplo, descobri na prática que as vezes a grande diferença está na forma que a pessoa conta o sonho, na escolha das palavras, nas ênfases, nos afetos etc. Quando você mergulha nisso, é tudo de uma grandeza que te deixa embasbacado várias vezes.


E, apesar disso tudo, eu não contra-indicaria a taróloga, justamente por ser questão de significados, de sentidos...

O mundo todo é a gente.

Maíra Bezzi disse...

Querido,

Vc fala em morte, mas eu penso em nascimento. Esse dois grandes momentos de nossas vidas, esses dois mistérios que talvez se encontrem em algum lugar. Se vamos morrer de qualquer jeito, por que nascemos?

Preparo-me para o meu terceiro parto, que será domiciliar. Já pari duas vezes, mas como cada gravidez é única, assim também os partos. A partir deles, a vida. A grande passagem. Depois, um dia, a morte. A outra grande passagem...

Não tenho conhecimento no assunto onírico, mas minha intuição me diz que sonhos repetitivos assim merecem a sua atenção e o seu respeito. Entre fundo, Escreva sobre ele assim que despertar. Faça desenhos. Toque. Quem sabe através da sua criatividade sem julgamentos e, sem cortes, a resposta chegue até vc?

Um bj carinhoso, Maíra

Anônimo disse...

Conseils tres interessants. A quand la suite?

Paulo Victor disse...

Os tempos são maus. A síntese dos microblogs e a agilidade das redes sociais tornaram lugares como este obsoletos. O resultado é que deixamos de ter acesso a textos interessantes, como os que um dia aqui foram achados... hehe
Não vai ressuscitar isto nunca mais, Silvio?
Abraço.

Silvio Garcia Martins Filho disse...

PV, com seu empurrãozinho acabei de criar um novo blog! Estou bem animado pra retomar minhas redações aqui no mundo virtual! Já dou notícias! Abração!