Mikhail Vrubel. Flight of Faust and Mephisto 1896
Nunca contei porque esse nome me atrai. Eu o usava no Mirc (espero que ninguém tenha guardado logs daquela época) e agora uso como pseudônimo aqui no blogspot.
Mefisto, Mephisto, Mefistófeles ou Mephistófeles, tanto faz; preferi com 'f' e a versão reduzida do nome pelo aspecto visual mesmo. Direto e no bom português.
Engraçado como pesquisar o nome na Internet nos traz a resultados tão improváveis como, por exemplo, uma bicicleta, um lutador mexicano, um jogo ou uma empresa de calçados francesa. Há também os mais famosos: personagem do Surfista Prateado, romance de Klaus Mann, ópera de Arrigo Boito ou o cientista louco de South Park.
Na Wikipédia lemos que Mefisto é um dos principais demônios da tradição literária europeia. Etimologicamente, alguém me corrija se estiver errado, significa o inimigo da luz.
Foi na leitura de Fausto, de Goethe, que a história de Fausto, desiludido com o conhecimento da sua época, sentindo o contraditório vazio do conhecimento, me fascinou. Seu pacto com o demônio, Mefisto, resulta em deliciosos anos vividos sem envelhecer, mediante contrato assinado com seu próprio sangue, em troca da sua alma. Após o gozo dos 24 anos vividos conforme combinado, Fausto é finalmente levado para o Inferno. A partir daí, a história da redenção ainda me soa meio chata, confesso. Talvez hoje uma releitura traga mais luz ao assunto.
Minhas preocupações e fantasmas pessoais vieram à tona por conta das reflexões do Fausto. Entretanto, a atração cresceu com a aparição do personagem que na obra de Goethe e de Thomas Mann é secundário. O mal tem seu charme: esse personagem já havia atraído o interesse de vários artistas, como apontei antes.
A personificação do demônio na ópera de Boito ficou na minha cabeça por anos: ele cantando em com uma roda de adoradores e a Terra nas mãos, como se tudo controlasse. Lembro dele e nunca vou me esquecer quando afirmou:
"Ich bin der Geiút, der stets verneint! Ein Teil von jener Kraft, die stets das Böse will stets das Gute schaft". (Eu sou o espírito que sempre nega! Uma parte dessa face que sempre quer o mal, mas de que resulta o bem.)
A negação de tudo, a antítese, a contradição. Quem dera fossem verdadeiras suas palavras. Mas dele, aparentemente refinado e atraente, por dentro todo maldade e egoísmo, retratando um pouco daquilo que nossa sociedade conhece bem, não se pode esperar menos do que a mentira. Quem nunca se sentiu atraído pelos prazeres falsos que atire a primeira pedra (vai aí uma pílula azul ou uma vermelha?)!
Isso tudo para registrar aqui que não consigo mais, não aguento mais, pretender o bem e só fazer o mal. Como eu invejo a certeza (ou a mentira) de Mefisto. Acreditar nisso talvez já me valesse... Mas não: dou amor, carinho e atenção e, não correspondendo fielmente às expectativas dos outros, só frustro. Melhor talvez seria que não houvesse sentimento algum. Viver pelo simples prazer sem com os outros se preocupar.
Cresci acreditando e propagando uma verdade que me era muito certa: se vim por alguma razão, foi para fazer o bem. Se não posso fazê-lo pela humanidade, que o fizesse pelos que me rodeiam. A cada sorriso que propiciasse, a cada minuto de prazer pela minha simples companhia (sim, acredito que isso seja possível), minha existência já faria sentido. Mas pautar minha existência pela expectativa dos outros tem sido receita de fracasso garantido.
Cadê você, Mefisto? Quanto tá valendo a minh'alma?