Desde pequeno não gostava de calçar sapatos. Vivia descalço e por isso riam dele.
Todas noites pedia em suas orações um belo par de sapatos para acabar com todo esse sofrimento que, ninguém sabe explicar ao certo, a falta de sapatos pode causar.
Um dia, não se sabe bem quando, seu pedido foi atendido. Estranho foi que ninguém percebeu de imediato a mudança, nem mesmo ele. Quando se deu conta já estava perambulando por aí, calçando lindos sapatos; só então veio a conta: "nunca tirarás esse par que, com o passar dos tempos, ficará mais e mais bonito".
De fato, com o tempo, as marcas, ao contrário do esperado, fizeram o par mais firme, forte e atraente. Todos reparavam. "Que belos sapatos!", exclamavam.
Um dia, após ter ouvido essa frase em jantares formais, em viagens de avião, nas poucas noites que entregou-se a alguém, nas filas de supermercado, nas noites em que saía de casa, nos pontos de ônibus, cansou-se.
Jogou-os em um precipício e, como deles não podia livrar-se, com eles foi.
quinta-feira, 5 de junho de 2008
Pequeno conto
Assinar:
Postar comentários (Atom)
11 comentários:
Poxa. Que lindo.
aaah, a beleza...
Muito bonito!
Sombrio, porém muito belo!
Esses sapatos podem ser tantas coisas! Dinheiro, beleza, poder, um emprego público :o), casamento, um grande amor... Depende do querer enxergar de cada um. Lendo o seu texto, eu achei os meus calos nesses sapatos. E me inspirei para escrever um continho sobre eles também. Depois passa lá. Beijos!
Mephisto, voltaste em grande estilo.
Fascinante seu little conto!
Beijocas!
Faz bem se livrar de coisas que, mesmo belas e cobiçadas, não nos fazem mais sentido... né?
Sacrifício grande ir com os tais sapatos.
Lindo conto.
O que parece estar sob os nossos pés e só ir até onde vamos, nem sempre pode ser pisado sem causar dor...
E há certas dores que matam.
Ando estudando direito do trabalho, em tudo tenho visto a mais-valia. Tomara q eu passe na próxima prova!
Eu quero muito ter sapatos agora...
Abraços.
Me fez lembrar de um trecho de Tabacaria, do Fernando Pessoa:
"Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara."
=D
Ola Silvio!
Faz tempo que esse conto estava linkeado xP
E bom mesmo!
Abrazos!
(disculpa meu portunhol)
Postar um comentário