quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Arte das Musas - outubro/2007

Retomando a apresentação dos períodos da história da música erudita, lembrando que já falamos sobre a música medieval e barroca e a música clássica, abordaremos hoje a música romântica. Desta vez a apresentação será esquematizada, para facilitar a leitura e esconder minha predileção pelo período, que certamente prolongaria demais o texto.

Localização temporal: Convencionou-se o seu início no ano da morte de Beethoven (1827) e seu término no início do Século XX, com a explosão do movimento modernista.

Significado: O movimento romântico constituiu uma reação ao racionalismo e ao classicismo, opondo o individualismo e o subjetivismo à universalidade dos clássicos.

Principais características: Nesse período foram flexibilizadas as formas, tão rigidamente aplicadas no classicismo, de modo a propiciar maior liberdade na expressão dos sentimentos. O espírito romântico concentra-se no indivíduo, marcando-se pelo lirismo, subjetividade e emoção, em reação à objetividade propugnada pelo Iluminismo. São comuns temas como o drama humano, a morte, os amores impossíveis, a solidão, as utopias e o escapismo.

Influências não-musicais: Houve grande interação com a literatura, a filosofia e as artes plásticas. Os “Lieds”, ou canções, para voz e piano, frequentemente utilizavam textos de escritores como Goethe, Rückert, Byron, Burns e outros.

A música programática foi outro gênero desenvolvido no romantismo, com raízes que podem remeter a obras como “As Quatro Estações” de Vivaldi e à “Sexta Sinfonia” de Beethoven, também conhecida como “Pastoral”. Nesse tipo de música, depende-se de outro fator de apreciação além da própria narrativa musical, remetendo a textos literários, como em “Má Vlast”, de Bietrich Smetana, “Also sprach Zarathustra”, de Richard Strauss, e a “Sinfonia Fantástica”, de Hector Berlioz.

Principais compositores e obras: É difícil listar poucos nomes quando se trata de um período que nos trouxe tão portentosos nomes. Eu destaco três:

Robert Schumann (1810, Alemanha - 1856, Alemanha). Compositor, pianista e crítico, sua figura é envolta por uma aura de lendas e curiosas histórias. Sua carreira como pianista foi cedo interrompida, diz-se, por um acidente com uma máquina inventada por ele para fortalecer os dedos (ah, esses pianistas...). Entretanto, é mais provável que o problema tenha se dado devido a um tratamento para sífilis à base de mercúrio. De pianista-compositor, a partir desse ‘acidente’ o próprio compositor viu-se mais como um compositor-crítico. A revisão e execução de suas obras passou a ficar a cargo da sua esposa Clara Wieck Schumann, filha do seu professor Friedrich Wieck, exímia pianista e, como o marido, entusiasta da poesia.

Sua primeira obra editada foi a “Variações sobre o nome ABEGG”, Op.1, cujas letras trazem duplo significado: o nome de uma namorada (à época ele não conhecia Clara) e, em alemão, “lá-si-mi-sol-sol”, tema que é apresentado em forma de valsa no início da música e reapresentado várias vezes de diferentes formas. Importantes e belíssimas são, para piano, “Davidsbündlertänze”, Opus 6 (danças dos companheiros de Davi, uma alusão àqueles que combatem os Filisteus, ou seja, Schumann e seus seguidores); “Kreisleriana”, Opus 16; “Carnaval - Scènes mignonnes sur quatre notes”, Opus 9. Vários temas e figuras rítmicas se repetem obstinadamente nas suas músicas, propiciando incomensurável prazer aos seus apreciadores que procuram essas ‘coincidências’. Há que se ouvir também o “Quarteto com piano”, o “Quinteto com piano”, os ciclos de canções “Liederkreis” e “Dichterliebe”, o “Concerto para piano” e o “Concerto para violoncelo”.

Frederic Chopin (1810 , Polônia - 1849, França). Pianista e compositor, sua música foi predominantemente escrita para o piano. Sua obra é reverenciada como parte fundamental do repertório pianístico, constituindo o que se diz ser uma base sólida para os estudantes e sempre um desafio para os profissionais. Há forte influência do folclore polonês na sua música (vide “Polonaises”, “Mazurcas” e “Canções”) e lirismo (ouvir as ‘melodias acompanhadas’ dos “Noturnos”). As obras mais virtuosísticas (“Estudos”, “Sonatas”, “Scherzos”, “Baladas” e os dois concertos para piano e orquestra) têm na dificuldade apenas um meio, e não fim.

Chopin se destacava no meio cultural da época pela sensibilidade. Em um desafio feito por um editor, que enviou um trecho de uma ópera de Bellini para os seis maiores pianistas da europa com o desafio de comporem variações sobre o tema selecionado, Chopin foi o único a compôr uma variação lenta, contrariando a tendência de exibicionismo virtuosístico tão cara à época.

Johannes Brahms (1833, Alemanha – 1897, Áustria). Sua obra encontra expressão em todas as formas, exceto balé e ópera. O que chegou até nós transparece uma quase perfeição, talvez devido ao perfeccionismo do compositor que diversas vezes destruiu partituras porque não as considerava boas o suficiente. Sua primeira sinfonia tomou cerca de 10 anos para ser finalizada, pois Brahms acreditava que após as sinfonias de Beethoven não havia mais o que se fazer no gênero sinfônico. A impressão que se tem é que se Beethoven tivesse escrito uma 10ª sinfonia, ela soaria como essa primeira de Brahms.

Brahms foi calorosamente recebido em casa dos Schumann, no ano de 1853, que recomendaram as obras do jovem compositor aos seus editores. Ainda sobre a sua relação com os Schumann, e um fato biográfico relevante com claros reflexos na sua música, tem-se a hipótese de que Brahms e Clara Schumann teriam tido um relacionamento amoroso, entretanto sem nenhuma prova concreta – ambos destruíram cartas que poderiam afirmar isso... A propósito, alguém pode imaginar como Clara conseguiria agüentar um marido trabalhoso (para não dizer outra coisa), cuidar dos filhos (foram oito!), gerenciar sua carreira como pianista de renome internacional, compor, revisar as obras do marido e ainda ter um amante?

É difícil a tarefa de indicar apenas algumas das obras de Brahms. É tudo digno da mais atenta audição! Mas me vêm à cabeça (ou do coração) os doloridos acordes do “Quinteto para cordas e piano em fá menor”, o “Trio para violino, cello e piano, em si menor”, os “Liebeslieder Waltzes”, para 4 vozes e piano a 4 mãos, os Quartetos de cordas, as 4 Sinfonias, os 2 concertos para piano e as danças húngaras (escritas para serem executadas no piano a 4 mãos; deliciosa atividade da qual Brahms tirou sábio proveito...).

Não escrevi aqui sobre vários temas importantes do romantismo: a ópera, o nacionalismo, o impacto da tecnologia na construção dos instrumentos e o conseqüente incremento da técnica instrumental, entre outros. Entretanto, sempre haverá mais a ser dito, felizmente. E é sempre aí que vem a música: para expressar o indizível.

Até a próxima!

4 comentários:

Anônimo disse...

Não conheço quase nada de música clássica, mas sempre que ouço me faz um bem enorme!

Sentimentos inspiram coisas tão bonitas! :)

Anônimo disse...

Oi?

Felipe Rosa disse...

Não é só por aqui que a produção de textos anda parada...

Sumiu, um pouco?
Abraço

Marcya disse...

Extraño a ti!
Besitos...