domingo, 19 de agosto de 2007

Impressões não muito seresteiras

Semana passada eu toquei na Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro, não como solista, mas como convidado, escondido lá atrás do Steinway e daquela celesta que era pior do que mulher de cafajeste: só cantava abaixo de paulada.

Participei dos ensaios, claro. Para isso, tive algumas horinhas de licença do meu chefe. Engraçado: mudou o ambiente, mas as diferenças não foram muitas. Foi como se eu apenas tivesse mudado de andar no meu ministério. Os músicos da orquestra são, acima de tudo, funcionários públicos. E nesse ambiente há te tudo, como em qualquer outro ambiente do Executivo: há os que pouco fazem, há aqueles que trabalham 3 vezes mais para compensar a ineficiência dos outros, há aqueles que dizem que estão trabalhando, os que só fazem o que o chefe manda (esses, a duras penas, ressalte-se), há os que se acham chefes, os que não acham nada, há músicos geniais, há medíocres, etc.

Enfim, uma peça de Nelson Rodrigues daquelas que têm o funcionário público como personagem central poderia facilmente ser adaptada para um ensaio da orquestra, com todos os matizes do grande draumaturgo.

Acho meio perigoso esse negócio de funcionário público fazendo arte. É muito bom dotar o músico de estabilidade, afinal ele já dedicou tanto tempo, tanta energia, tanto dinheiro para fomentar seu talento. Mas a postura de alguns acaba prejudicando o resultado: há muita gente acomodada com a estabilidade se esquecendo que seu objeto de trabalho é a Arte. Há que se trabalhar com esmero, com cuidado, com paixão!

No final, a impressão que ficou: dava tudo para ter estudado um instrumento de orquestra e trocar meus processos licitatórios por sinfonias de Brahms.

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