domingo, 19 de agosto de 2007

Arte das musas - agosto/2007

Como comentei mês passado, todo mês sai um texto meu na intranet do ministério para o qual trabalho. Abaixo copio o que escrevi neste mês. Lembro que o público é leigo e meu objetivo é trazer esse público mais para perto da música erudita. Comentários são bem-vindos.

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Freqüentemente, em conversas sobre música erudita com amigos, ouço reclamações sobre a dificuldade em lidar com tantos nomes de compositores, de obras e estilos. Assim, minha intenção hoje é apresentar de forma sucinta alguns dos períodos mais importantes da música erudita, os seus maiores expoentes e, em alguns casos, as obras mais importantes. Faço uma ressalva apenas: escolhi simplificar bastante para que todos tenham uma visão panorâmica desta arte.

Música Medieval (séc. VI – séc. XV)
Uma das características da música erudita é sua notação musical, que permite a fiel execução do que tencionava um compositor de séculos atrás nos dias de hoje. Há indícios de notação musical no Egito e Mesopotâmia do terceiro milênio a.C. Entretanto, como a conhecemos hoje, teve início e grande desenvolvimento na Idade Média. Os nomes das notas musicais (Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá e Si) foram extraídos das sílabas iniciais de um hino a São João Batista, intitulado Ut queant Laxis, do monge beneditino Guido d’Arezzzo (aprox. 992 – aprox. 1050).

São encontrados poucos registros de música medieval no mercado brasileiro em comparação com os dos períodos mais recentes, destacando-se os cantos gregorianos – música de apenas uma melodia, desacompanhada –, utilizados nas celebrações religiosas da Igreja Católica. Seu texto é de grande importância, revestido de importância superior à melodia, razão pela qual os monges entoam esses cantos sem qualquer impostação vocal (como a dos cantores de ópera, por exemplo). Cantar era tido como um ato de devoção. Segundo ensinamento de Santo Agostinho, “quem canta ora duas vezes”.

Dos seus compositores, podemos destacar Leonin (1135 – 1201) e Pérotin (1160 – 1236), ambos franceses.

Música Renascentista (séc. XVI)
A transição para a música da Renascença não é muito clara, uma vez que a introdução de características renascentistas foi lenta. Sob influência estética das antigas Grécia e Roma, com a substituição gradual do teocentrismo pelo antropocentrismo, a marcar a primazia do Homem sobre Deus, temos nomes como Giovanni Pierluigi da Palestrina (Itália, 1525-1594) e Claudio Monteverdi (Itália, 1567- 1643), ‘pai’ da ópera. Deste último, as óperas ainda hoje mais representadas são L'Incoronazione di Poppea e Il Ritorno d'Ulisse in Patria.

São características da época o uso do contraponto, técnica usada na composição em que duas ou mais vozes melódicas são compostas seguindo regras pré-estabelecidas, e da polifonia, que é a utilização de várias vozes com linhas melódicas distintas em uma composição musical.

Música Barroca (séc. XVII – meados do séc. XVIII)
Assim como no Barroco – o movimento estilístico e filosófico –, a música desse período trata do fervor religioso e da passionalidade, buscando-se Deus através da música. Foi uma das épocas musicais mais importantes, pela novidade das criações e influência posterior, cujos efeitos são sentidos até a atualidade, marcando também o apogeu da música instrumental.

Dentre seus compositores mais notórios, sobressaem Antonio Vivaldi (Itália, 1678-1741), Georg Friedrich Händel (Alemanha, 1685-1759) e Johann Sebastian Bach (Alemanha, 1685-1751). Do primeiro, ressalto a série de concertos para violino e orquestra chamada “As quatro estações”, da qual conhecemos muito bem o primeiro movimento do concerto “Primavera”. De Händel, destaco a suíte – que nada mais é do que uma série de danças – “Música Aquática”, demandada pelo Rei George I para ser executada sobre um barco no rio Tamis, e a “Música para os Fogos de Artifício Reais”, para comemorar o fim da guerra da Sucessão Austríaca e a assinatura do Tratado de Aix-la-Chapelle.

E do grande Bach, cuja obra ficou esquecida por praticamente um século após sua morte, destaco a obra para cravo, o antecessor do piano, a série de prelúdios e fugas intitulada “O Cravo Bem Temperado” e as “Variações Goldberg”. Estas, reza a lenda, compostas para o conde Hermann Karl von Keyserling, ex-embaixador russo na Saxônia que, acometido freqüentemente de insônia, teria solicitado a Bach uma obra a ser executada pelo talento de J. G. Goldberg, então cravista do conde, para consolar suas noites não dormidas.

Da obra coral, destaco a “Paixão Segundo São Mateus”, a “Paixão Segundo São João”, e a “Missa em Si Menor” (freqüentemente digo que essas músicas devem compor o cenário de entrada no Paraíso!). Da sua obra para instrumentos de cordas, muito significativas são as Suítes para violoncelo solo - lembrando que as Suítes são séries de danças - e as Partitas – as Suítes barrocas geralmente vinham acompanhadas de uma designação: Suítes Inglesas, Francesas, Italianas ou Alemãs, estas últimas mais conhecidas como Partitas - para violino solo, que utilizam praticamente todo o potencial desses instrumentos e que são repertório obrigatório e desafio constante para todos, pela dificuldade técnica e musical. A obra para órgão, instrumento que dominava, é extensa e genial. Há ainda diversas combinações dos mais variados instrumentos, como os Concertos de Brandemburgo, ficando de fora apenas a ópera, gênero nunca abordado pelo compositor.

Nas próximas colunas escreverei sobre os períodos posteriores da música erudita: clássico (viram por que não utilizo o termo ‘música clássica’ para o assunto desta coluna?), romântico, impressionista, moderno e contemporâneo. Há muito que escrever e pouco espaço, e assim fico sempre à disposição para esclarecer as dúvidas dos leitores. Aproveito também para agradecer os e-mails de apoio, as sugestões e comentários.

Até breve!

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