Nas situações de crise nos vêm à tona certos temas, aqueles que de certa forma nos intrigam.
No meu caso, o tempo.
Não o tempo como dimensão física, definido a partir da duração de uma transição eletrônica entre dois níveis específicos de energia entre os níveis hiperfinos do estado padrão não perturbado, num átomo puro de Césio , somando 9.192.631.770 períodos dessa radiação... ou algo assim.
...mas o tempo subjetivo e as percepções que enseja.
Quando criança, uma tarde durava uma eternidade. Entre o almoço e o programa do Bozo eu dormia umas duas vezes, fazia uns dois lanches, brincava e quando via não eram ainda nem 17h.
Tudo era novo, a ser descoberto.
O tempo foi passando, os mistérios descobertos, e as atividades passaram a ser rotineiras. Acordo e quando vejo, puf! Já são 20h! Fora um pôr-do-sol extraordinário, ou alguma música que tenha ouvido por acaso do carro ao lado que tenha me lembrado algo, o dia passa de forma quase mecânica. Não me despertam mais interesse todos aqueles sinais, símbolos, pessoas, gestos... fui treinado para isso.
A lembrança de outros tempos inclui "sons e perfumes permeando o ar da noite". Toda aquela sensação de satisfação, de conhecer e ignorar, de perder-se e encontrar-se. Tudo isso faz do passado pleno, atraente, terrivelmente atrativo. Um perigo para os depressivos.
A memória recente: acordar cedo, trânsito, 'conjunto, rodoviária, esplanada, tá vazio!", ofício, memorando, almoço ruim, "brasília, w3norte, tá vazio!", trânsito, muito trânsito, fome, sono, preparar o despertador.
Hoje creio que buscamos o desconhecido devido a uma necessidade de sentir novamente aquelas sensações da infância/adolescência, de constante descoberta. Parece não haver mais o que se descobrir. Que desespero!
Não é a falta de tempo que nos incomoda: a sensação de o tempo estar passando rápido demais se deve ao fato de não repararmos mais nas pequenas coisas. Ligamos o automático e, no máximo, reclamamos. E assim, o tempo vai passando.
quinta-feira, 12 de abril de 2007
Tempus Fugit
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13 comentários:
Parabéns!
Lindo texto!
É a mais pura verdade! como a gente deixa o tempo passar, não é?
às vezes eu tento aproveitar mais o tempo... mas nos dias de hj é difícil.
Abraçãooo
LüiZ
http://flogdoluiz.flogbrasil.terra.com.br
Certa vez escutei uma verdade.. o tempo é igual para mim, para você, para Einstein, e para Mozart.. a dúvida é de apenas de como devemos aproveitar as 24 horas que temos de cada dia.. Venho tentando fazer isso..
Saudaçoes,
Bernhard.
Bonito texto!
Fikei curioso sobre o blog e resolvi espiar. rs... Eu já tive alguns, mas o tempo para escrever foi diminuindo e eu acabei desistindo. Agora tenho apenas meu singelo flog. Passe lá qualquer hora! Abraços!
http://www.fotolog.com/fireheart_
Silvio,
Há uma teoria da neurofisiologia que diz que, com o passar dos anos, nossos neurônios vão acumulando alguma substância (cujo nome não lembro) que os faz reagir de modo cada vez mais lento, como se fossem enferrujando - aliás, de resto, como todo o organismo! Assim, nossa percepção do tempo se altera ao longo da vida: quanto mais avançamos, mais parece que os dias são curtos para fazer tudo o que queremos. No limite, perceberemos que a vida terá sido curta para o que gostaríamos de ter feito e não fizemos. Então, por que ainda relutamos em agir hoje? :-)
Nunca concordei com o título da trilogia de Érico Veríssimo "O tempo e o vento". Eu acho que deveria ser "O tempo É o vento..." Invisível, enigmático, por vezes destruidor, outras vezes refrescante. O importante não é o vento (ou o tempo...), mas se decidimos explorar os odores e histórias que voam numa leve brisa da tarde ou se reclamamos da corrente de ar que atrapalha nosso cabelo... É o mesmo com o tempo. Tudo depende da nossa escolha.
ah, achei lindo, muito lindo mesmo.
Silvinho, pense bem, pelo menos você parou um pouco no tempo para escrever esse lindo texto e preencheu o meu tempo com lindas palavras. Tudo de bom! Bjim
É fantástico perceber como as mais diversas pessoas espalhadas pelo mundo raciocinam ante as dificuldades que o mundo ágil, dinâmico e mergulhado sob a pós modernidade pode inferir na vida pessoal de cada um de nós, seres passíveis aos erros e acertos, derrotas e vitórias, além de graças e desgraças...
A sensação de tempo curto está diretamente relacionada com o estilo de vida, a forma como gerenciamos nosso estado vital e mesmo como reagimos ao mundo sob a pressão de responder positivamente sempre que nos encontramos sob adversidades.
A sensação curta de tempo é mais agressiva quando estamos sozinhos, como vivemos imersos a um mundo onde as pessoas a nossa volta também se encontram sozinhas ou vazias, isso tudo influencia na compactação do que enxergamos do mundo alheio.
Viver é prazer, viver é alegria, viver é sentidos apurados, é tato, paladar, olfato, audição e principalmente visão, que nos mostra a todo momento algo diferente, por mais que a rotina nos soterre.
Por isso meu caro, a vida é uma lição e é preciso cumpri-la com o maior êxito possível, pois não podemos nos permitir deixar de viver porque nos pontuamos seres sem tempo. O tempo existe, basta que saibamos usufruí-lo da forma mais inteligente e, em boa parte, da forma mais alegre e condizente com o que somos e sentimos...
Sílvio, gostei muito. Muito mesmo.
Tenho pensado sobre mtas coisas ultimamente e o tempo é certamente uma delas...
Maíra.
Adorei os comentários. Todos.
Continuo pensando, sem chegar em lugar algum.
O tempo não voa, você não o percebia passar porquê não pensava tanto nisso quando era mais novo.
Acho que as crianças são mais felizes porquê não entendem como o mundo funciona.
O tempo passa de forma opressivamente rápida, meu caro. Ontem o ano começou, depois veio o carnaval, a páscoa e, finalmente, o comércio já fala em Dia das Mães. Daqui a pouco, já é Natal de novo... Não sei para você, mas para mim é um pouco demais.
e sobra tempo pra reparar nas pequenas coisas? quero voltar...
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