Duas crianças estrangeiras, irmãs, provavelmente suecas, ou holandesas, ou húngaras, brincam durante voo. A brincadeira: traduzir palavras de um idioma estranho para o inglês. Tudo feito de maneira comedida e exemplarmente educada. Eram bilingues. Tinham pouco mais de cinco anos e falavam com a mãe no seu idioma e entre si em inglês.
No banco de trás delas, diferentemente, uma criança brasileira, de uns 4 anos, conversa com a mãe em um tom de voz que até o piloto podia ouvir. Em certo momento, ela tenta puxar um papo com as duas crianças estrangeiras: "Oi?". A tentativa se repete a cada 15 segundos durante metade do voo, sem sucesso.
Então ouço: - "Why does she keep doing that, mom?"
E a brasileira: - "Oi?", "Oi?", "Mãe, porque eles não falam comigo?" "Oi?"
A mãe da brasileirinha ainda estimula: "Diga 'Hello' porque elas são estrangeiras, filhinha"
- "Hello?", "Oi?"
Em um momento de sinceridade que parece ser dado apenas às crianças, ouve-se: - "Eu não querrrr falar".
Metade do avião caiu no riso.
Refleti sobre esse nosso hábito de achar que é dever dos outros nos tratarem bem só porque estamos sendo simpáticos, de corresponder às nossas expectativas. Não nos ensinam que nem sempre os outros estão 'a fim', e isso não é de forma alguma um problema. Precisamos aprender a respeitar os outros, seus espaços e formas diferentes de pensar. Eu teria perdido muito menos tempo se soubesse isso antes.