terça-feira, 18 de maio de 2010

Da origem do uso do nome 'Mefisto'









Mikhail Vrubel. Flight of Faust and Mephisto 1896


Nunca contei porque esse nome me atrai. Eu o usava no Mirc (espero que ninguém tenha guardado logs daquela época) e agora uso como pseudônimo aqui no blogspot. 

Mefisto, Mephisto, Mefistófeles ou Mephistófeles, tanto faz; preferi com 'f' e a versão reduzida do nome pelo aspecto visual mesmo. Direto e no bom português. 

Engraçado como pesquisar o nome na Internet nos traz a resultados tão improváveis como, por exemplo, uma bicicleta, um lutador mexicano, um jogo ou uma empresa de calçados francesa.  Há também os mais famosos: personagem do Surfista Prateado, romance de Klaus Mann, ópera de Arrigo Boito ou o cientista louco de South Park.

Na Wikipédia lemos que Mefisto é um dos principais demônios da tradição literária europeia. Etimologicamente, alguém me corrija se estiver errado, significa o inimigo da luz.

Foi na leitura de Fausto, de Goethe, que a história de Fausto, desiludido com o conhecimento da sua época, sentindo o contraditório vazio do conhecimento, me fascinou. Seu pacto com o demônio, Mefisto, resulta em deliciosos anos vividos sem envelhecer, mediante contrato assinado com seu próprio sangue, em troca da sua alma. Após o gozo dos 24 anos vividos conforme combinado, Fausto é finalmente levado para o Inferno. A partir daí, a história da redenção ainda me soa meio chata, confesso. Talvez hoje uma releitura traga mais luz ao assunto. 

Minhas preocupações e fantasmas pessoais vieram à tona por conta das reflexões do Fausto. Entretanto, a atração cresceu com a aparição do personagem que na obra de Goethe e de Thomas Mann é secundário. O mal tem seu charme: esse personagem já havia atraído o interesse de vários artistas, como apontei antes. 

A personificação do demônio na ópera de Boito ficou na minha cabeça por anos: ele cantando em com uma roda de adoradores e a Terra nas mãos, como se tudo controlasse. Lembro dele e nunca vou me esquecer quando afirmou:

"Ich bin der Geiút, der stets verneint! Ein Teil von jener Kraft, die stets das Böse will stets das Gute schaft". (Eu sou o espírito que sempre nega! Uma parte dessa face que sempre quer o mal, mas de que resulta o bem.) 

A negação de tudo, a antítese, a contradição. Quem dera fossem verdadeiras suas palavras. Mas dele, aparentemente refinado e atraente, por dentro todo maldade e egoísmo, retratando um pouco daquilo que nossa sociedade conhece bem, não se pode esperar menos do que a mentira. Quem nunca se sentiu atraído pelos prazeres falsos que atire a primeira pedra (vai aí uma pílula azul ou uma vermelha?)!

Isso tudo para registrar aqui que não consigo mais, não aguento mais, pretender o bem e só fazer o mal. Como eu invejo a certeza (ou a mentira) de Mefisto. Acreditar nisso talvez já me valesse... Mas não: dou amor, carinho e atenção e, não correspondendo fielmente às expectativas dos outros, só frustro. Melhor talvez seria que não houvesse sentimento algum. Viver pelo simples prazer sem com os outros se preocupar.

Cresci acreditando e propagando uma verdade que me era muito certa: se vim por alguma razão, foi para fazer o bem. Se não posso fazê-lo pela humanidade, que o fizesse pelos que me rodeiam. A cada sorriso que propiciasse, a cada minuto de prazer pela minha simples companhia (sim, acredito que isso seja possível), minha existência já faria sentido. Mas pautar minha existência pela expectativa dos outros tem sido receita de fracasso garantido. 

Cadê você, Mefisto? Quanto tá valendo a minh'alma? 

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Decisões de ano novo

Tudo bem, um terço do ano já passou, mas quem se importa. Sempre é tempo para decisões importantes:

1 - operar o nariz.

Mas não vou deixar arrebitado que nem o Michael não. Vou só corrigir o desvio de septo. Estou ansioso por saber como é respirar pelas duas narinas.

Meu nariz sempre foi grande. Não que hoje incomode, até gosto dele; mas quando adolescente, uns 15 quilos a menos, só se via o meu nariz. Na primeira consulta com o otorrino veio o sonho: plástica. Cresci sonhando com o dia em que poderia corrigir aquela imensidão inútil. Aliás, pra que algo tão grande sem função (além de pendurar os óculos), hein? Mas sei lá porque os narizes grandes entraram na moda, eu fiquei menos magro e acho que o cenário não ficou tão ruim.

2 - posar (nu) para um pintor.

Já que obra alguma eu deixei (quando penso que com 30 anos grandes compositores como Mozart já tinham escrito a maior parte das suas obras importantes, quase rola um desespero), pelo menos em alguma obra eu fico. O nome dele é Marcelo e quando chegar em casa eu coloco alguma coisa dele aqui enquanto o seu blog não fica pronto.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Entre o piano e o MDS


Silvio Garcia (sou eu) é apaixonado por música erudita e pianista de primeira. Na Intranet, vai assumir a coluna "Arte das Musas" (*) 



A paixão de Silvio por música erudita começou cedo. Filho de militar, seus pais cultivavam o sonho de um futuro promissor para o garoto. Alheio aos sonhos, seguia brincando nas ruas da capital catarinense, Florianópolis, até que, aos 14 anos, é apresentado ao teclado. Não se adapta, prefere um som mais complexo. O piano, no caso. Começa então a fuçar LPs de vizinhos à procura de Mozart, Chopin e companhia – a família nunca teve gosto por música clássica.


Paralelo as longas horas ouvindo violino e piano trancado no quarto, sob olhares assustados da família e dos amigos, Silvio se matricula num curso de extensão de piano na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). Desde então, seus dias foram divididos em três tarefas básicas: escola, pela manhã; piano, à tarde; e música, à noite. “Meus pais respeitavam, mas não acreditavam que a música poderia ser minha opção profissional”, conta Silvio Garcia Martins Filho, hoje servidor da Diretoria de Programas da Secretaria-Executiva.

Sucessivas mudanças de cidades, devido às transferências militares do pai, não afastam Silvio do piano. Quando chega a Brasília, em 1997, após passar por Guaratinguetá, no interior paulista, vai direto à Escola de Música buscar uma vaga. Hesitante quanto à reação dos pais, opta pelo curso de Relações Internacionais, deixando a graduação de Música de lado.

Já se vão dez anos e Silvio não se profissionalizou no piano. Está com 27 anos de idade e se considera um “bom pianista amador”. Faz apresentações e dá aulas, entre outras atividades do mundo musical. Ao falar da paixão pelo piano, os olhos crescem, os gestos surgem e a boca não pára de explicar o que são fugas e recitais e porque o trio alemão – Bach, Beethoven e Brahms – é tão importante.

Antes de concluir o curso de Relações Internacionais, Silvio já trabalhava no Ministério da Agricultura com negociações entre blocos comerciais que lhe renderam muitas viagens, inclusive, internacionais. Isso aos 22 anos de idade, momento em que se afastou um tanto do piano. Poupa, pede exoneração e vai à Itália e não à Alemanha dos grandes compositores eruditos. “Viajei para conhecer e para aprender italiano.”, conta em português, apesar de falar também inglês, espanhol e francês.

Volta ao Brasil decidido a nunca mais largar o piano. E toma uma decisão – e frustra quem achava que seria se profissionalizar como pianista: ser servidor público. “Para me dedicar à música, preciso consumir cultura: viajar, ler, ir ao cinema”, começa a explicar o porquê de não se arriscar como músico. Para isso, seria imprescindível estabilidade.

Aí, ingressa no MDS, em agosto 2006, via concurso temporário. Gosta do que faz: acompanhar projetos envolvendo o Ministério e organismos internacionais, como BID, Bird e Pnud. Se as oito horas de trabalho Silvio leva enfurnado na sala 615 do bloco “C”, as outras ele ocupa de forma bem variada.

Quando não está tocando piano, está na platéia de concertos e recitais. É comum vê-lo bravo no Teatro Nacional Cláudio Santoro ou em outras salas de Brasília por indelicadezas do público. “Nós temos que entender que as pessoas vão ao concerto para apreciar música e não para conversar ou lanchar”, ressalta, repreendendo quem não pára quieto na cadeira ou leva criança, quando pequena, às salas.


Para incluir os funcionários do MDS no mundo da música erudita, o pianista Silvio vai assumir a coluna mensal "Arte das Musas" na Intranet. Todo dia 5, grandes compositores, divulgação, dicas e curiosidades dos concertos clássicos de música erudita estarão a um clique. Aguarde!

Vítor Corrêa
Internet-Ascom/MDS

(*) Texto publicado na intranet do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome em 04/07/07