terça-feira, 28 de agosto de 2007

Dura lex?

Confiram aqui o artigo do Promotor de Justiça Ivaldo Lemos Júnior "Crime de homofobia: o Estado sou eu", publicado no Jornal de Brasília de hoje, 27 de agosto, caderno "Opinião", página 10. Quando acho que as coisas estão mal eu me convenço que elas ainda podem ficar piores.

Por exemplo, com os comentários de dois sujeitos ao texto desse Sr. Ivaldo:

"Esta retórica dos direitos dos Homos, não passa de afirmação gay via lei, querem na verdade serem aceitos por força de lei. Não existe direitos do gays, pura ficção, o que deve existir são os direitos do homem, no sentido universal, sem definição de cor, raça, sexo, etc. Querem na verdade com o projeto de lei estabelecer uma mordaça gay, como não tem argumentos para convencer que a prática homo é natural, normal, buscam na censura o silêncio de uma verdade. O que cabe aos homos é serem respeitados como seres humanos, como qualquer outro. Há bons fundamentos para afirmar que uma relação homo é antinatural, sem ser pré-conceituoso."
João Marcos - risomajo@yahoo.com.br
28/08/2007 - 14:47:42
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"Muito Boa a opinião do Promotor, até que enfim alguem que enxergar a verdade sobre esse assunto, que vem apresentado como sendo algo normal. Não existe esse negócio de ficar tratanto homosexuais como coitadinhos e discriminados, são uns safados, sem vergonhas que veem se aproveitando da inocência da sociedade para com suas atitudes vergonhosas e ultrajantes. Todo homossexual é pedófilo e doente que precisa de tratamento, e não de mais espaço na sociedade como se sua conduta fosse normal."
Mário Augusto de Oliveira Neto - maugusto@tc.df.gov.br
27/08/2007 - 18:47:13


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Venham cá:

Como minha mãe leria um texto assim? Ela que, teoricamente, de gay só conhece o que é esteriótipo, nunca se permitindo conhecer todo o universo que há na vida gay, como reagiria? Com mais preconceito e repulsa, com certeza. Assim como os ignorantes leitores (são apenas eles?) do Jornal de Brasília.

Perguntaria ao ilustre Promotor de Justiça (aliás, dá pra falar sobre justiça com alguém assim?) se ele se sente representado pelo Renan, ou pelo Lula, ou seja lá quem for, na sua heterossexualidade. Eu não me sinto representado pelo Prof. Mott, cujos comentários não julgo apropriados mas, enfim, ele tem direito de expressão. Há diversidade de heteros, de gays, de negros... e não podemos generalizar um movimento assim, não acham?

Acho triste um senhor como esse, tão carregado de preconceitos, trabalhar com assunto tão sério em um momento onde nossos direitos começam a se consolidar e ganhar reconhecimento público.

Aposto que se fosse há uns 50 anos, um senhor como esse diria: essas mulheres querendo trabalhar fora daqui a pouco vão achar que merecem ganhar salários como os nossos.

E depois, com os comentários desses dois outros sujeitos, como é que o Sr. Ivaldo ainda consegue dizer que a 'oposição' está desorganizada? O preconceito é praticamente uma instituição dia-a-dia fomentada com argumentos como o dele.

O mundo é tão grande mas ainda tem gente se incomodando com a existência de pessoas diferentes (lembremos, não há opção, mas orientação sexual). A dificuldade em lidar com as diferenças é um dos grandes males da humanidade. E não me venham com "Deus não quis assim", por favor! Estado laico diz algo? Às vezes me sinto perdido no meio de tanta estupidez. Não culpo minha mãe, o padeiro ou o vizinho do lado, os quais não têm repertório para tratar tais assuntos, mas mestres em Direito como o Sr. Uziel Santana (vejam um artigo seu aqui), Promotores de Justiça, e outros cidadão que se dizem preocupados com as mazelas da sociedade, com a consolidação da democracia, com a paz... Por favor, voltem para a escola.

Lamentável.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Ogni Mio Istante

"...sai
come vorrei
che fossi io
amore mio
a dirti addio…"

domingo, 19 de agosto de 2007

Impressões não muito seresteiras

Semana passada eu toquei na Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro, não como solista, mas como convidado, escondido lá atrás do Steinway e daquela celesta que era pior do que mulher de cafajeste: só cantava abaixo de paulada.

Participei dos ensaios, claro. Para isso, tive algumas horinhas de licença do meu chefe. Engraçado: mudou o ambiente, mas as diferenças não foram muitas. Foi como se eu apenas tivesse mudado de andar no meu ministério. Os músicos da orquestra são, acima de tudo, funcionários públicos. E nesse ambiente há te tudo, como em qualquer outro ambiente do Executivo: há os que pouco fazem, há aqueles que trabalham 3 vezes mais para compensar a ineficiência dos outros, há aqueles que dizem que estão trabalhando, os que só fazem o que o chefe manda (esses, a duras penas, ressalte-se), há os que se acham chefes, os que não acham nada, há músicos geniais, há medíocres, etc.

Enfim, uma peça de Nelson Rodrigues daquelas que têm o funcionário público como personagem central poderia facilmente ser adaptada para um ensaio da orquestra, com todos os matizes do grande draumaturgo.

Acho meio perigoso esse negócio de funcionário público fazendo arte. É muito bom dotar o músico de estabilidade, afinal ele já dedicou tanto tempo, tanta energia, tanto dinheiro para fomentar seu talento. Mas a postura de alguns acaba prejudicando o resultado: há muita gente acomodada com a estabilidade se esquecendo que seu objeto de trabalho é a Arte. Há que se trabalhar com esmero, com cuidado, com paixão!

No final, a impressão que ficou: dava tudo para ter estudado um instrumento de orquestra e trocar meus processos licitatórios por sinfonias de Brahms.

Arte das musas - agosto/2007

Como comentei mês passado, todo mês sai um texto meu na intranet do ministério para o qual trabalho. Abaixo copio o que escrevi neste mês. Lembro que o público é leigo e meu objetivo é trazer esse público mais para perto da música erudita. Comentários são bem-vindos.

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Freqüentemente, em conversas sobre música erudita com amigos, ouço reclamações sobre a dificuldade em lidar com tantos nomes de compositores, de obras e estilos. Assim, minha intenção hoje é apresentar de forma sucinta alguns dos períodos mais importantes da música erudita, os seus maiores expoentes e, em alguns casos, as obras mais importantes. Faço uma ressalva apenas: escolhi simplificar bastante para que todos tenham uma visão panorâmica desta arte.

Música Medieval (séc. VI – séc. XV)
Uma das características da música erudita é sua notação musical, que permite a fiel execução do que tencionava um compositor de séculos atrás nos dias de hoje. Há indícios de notação musical no Egito e Mesopotâmia do terceiro milênio a.C. Entretanto, como a conhecemos hoje, teve início e grande desenvolvimento na Idade Média. Os nomes das notas musicais (Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá e Si) foram extraídos das sílabas iniciais de um hino a São João Batista, intitulado Ut queant Laxis, do monge beneditino Guido d’Arezzzo (aprox. 992 – aprox. 1050).

São encontrados poucos registros de música medieval no mercado brasileiro em comparação com os dos períodos mais recentes, destacando-se os cantos gregorianos – música de apenas uma melodia, desacompanhada –, utilizados nas celebrações religiosas da Igreja Católica. Seu texto é de grande importância, revestido de importância superior à melodia, razão pela qual os monges entoam esses cantos sem qualquer impostação vocal (como a dos cantores de ópera, por exemplo). Cantar era tido como um ato de devoção. Segundo ensinamento de Santo Agostinho, “quem canta ora duas vezes”.

Dos seus compositores, podemos destacar Leonin (1135 – 1201) e Pérotin (1160 – 1236), ambos franceses.

Música Renascentista (séc. XVI)
A transição para a música da Renascença não é muito clara, uma vez que a introdução de características renascentistas foi lenta. Sob influência estética das antigas Grécia e Roma, com a substituição gradual do teocentrismo pelo antropocentrismo, a marcar a primazia do Homem sobre Deus, temos nomes como Giovanni Pierluigi da Palestrina (Itália, 1525-1594) e Claudio Monteverdi (Itália, 1567- 1643), ‘pai’ da ópera. Deste último, as óperas ainda hoje mais representadas são L'Incoronazione di Poppea e Il Ritorno d'Ulisse in Patria.

São características da época o uso do contraponto, técnica usada na composição em que duas ou mais vozes melódicas são compostas seguindo regras pré-estabelecidas, e da polifonia, que é a utilização de várias vozes com linhas melódicas distintas em uma composição musical.

Música Barroca (séc. XVII – meados do séc. XVIII)
Assim como no Barroco – o movimento estilístico e filosófico –, a música desse período trata do fervor religioso e da passionalidade, buscando-se Deus através da música. Foi uma das épocas musicais mais importantes, pela novidade das criações e influência posterior, cujos efeitos são sentidos até a atualidade, marcando também o apogeu da música instrumental.

Dentre seus compositores mais notórios, sobressaem Antonio Vivaldi (Itália, 1678-1741), Georg Friedrich Händel (Alemanha, 1685-1759) e Johann Sebastian Bach (Alemanha, 1685-1751). Do primeiro, ressalto a série de concertos para violino e orquestra chamada “As quatro estações”, da qual conhecemos muito bem o primeiro movimento do concerto “Primavera”. De Händel, destaco a suíte – que nada mais é do que uma série de danças – “Música Aquática”, demandada pelo Rei George I para ser executada sobre um barco no rio Tamis, e a “Música para os Fogos de Artifício Reais”, para comemorar o fim da guerra da Sucessão Austríaca e a assinatura do Tratado de Aix-la-Chapelle.

E do grande Bach, cuja obra ficou esquecida por praticamente um século após sua morte, destaco a obra para cravo, o antecessor do piano, a série de prelúdios e fugas intitulada “O Cravo Bem Temperado” e as “Variações Goldberg”. Estas, reza a lenda, compostas para o conde Hermann Karl von Keyserling, ex-embaixador russo na Saxônia que, acometido freqüentemente de insônia, teria solicitado a Bach uma obra a ser executada pelo talento de J. G. Goldberg, então cravista do conde, para consolar suas noites não dormidas.

Da obra coral, destaco a “Paixão Segundo São Mateus”, a “Paixão Segundo São João”, e a “Missa em Si Menor” (freqüentemente digo que essas músicas devem compor o cenário de entrada no Paraíso!). Da sua obra para instrumentos de cordas, muito significativas são as Suítes para violoncelo solo - lembrando que as Suítes são séries de danças - e as Partitas – as Suítes barrocas geralmente vinham acompanhadas de uma designação: Suítes Inglesas, Francesas, Italianas ou Alemãs, estas últimas mais conhecidas como Partitas - para violino solo, que utilizam praticamente todo o potencial desses instrumentos e que são repertório obrigatório e desafio constante para todos, pela dificuldade técnica e musical. A obra para órgão, instrumento que dominava, é extensa e genial. Há ainda diversas combinações dos mais variados instrumentos, como os Concertos de Brandemburgo, ficando de fora apenas a ópera, gênero nunca abordado pelo compositor.

Nas próximas colunas escreverei sobre os períodos posteriores da música erudita: clássico (viram por que não utilizo o termo ‘música clássica’ para o assunto desta coluna?), romântico, impressionista, moderno e contemporâneo. Há muito que escrever e pouco espaço, e assim fico sempre à disposição para esclarecer as dúvidas dos leitores. Aproveito também para agradecer os e-mails de apoio, as sugestões e comentários.

Até breve!